Simplesmente, Flamengo


Nasci numa família de flamenguistas. Meu pai era apaixonado pelo Flamengo. Curiosamente, quando fiz oito anos decidi-me pelo fluminenseminha paixão. Na ocasião meu pai me ofertou a primeira grande lição, quando soube da minha escolha me chamou para uma conversa e disse: ─ filho, a escolha é sua, seu pai te apóia, porém, você vai sofrer muito. A partir de então, o fusca dele passou a contar com mais um adesivo no vidro traseiro, o adesivo do Flu. Aprendi assim que era possível admirar um flamenguista. Ao longo destes anos, tenho a convicção de que meu pai acertou na sua profecia, mas, também errou, o Fluminense tem me dado muitas alegrias nestes 46 anos.

Meu pai morreu aos 44 anos. Poucas horas antes de morrer, se despediu de cada filho, um por um, somos três. Quando chegou a minha vez ele praticamente não tinha mais capacidade articulatória, no entanto, pediu que eu me aproximasse bem perto dele e sussurrou ao meu ouvido: ─ qual foi o resultado de Flamengo e Paris Sain’t Germain? Respondi: − 3x1 para o Flamengo, pai. Ele sem condições de falar, ofegante, fez o sinal de positivo para mim. Poucas horas depois, falecia no Hospital Municipal de Areal.

Meu pai morreu amando o Flamengo até o último suspiro, literalmente. Este amor pelo Flamengo ele não passou para mim, mas, passou um sentimento assim tipo Síndrome de Estocolmo, ou seja, eu tenho pavor do Flamengo, tenho muito medo de jogar contra ele, mas ao mesmo tempo tenho uma admiração que chega a ser indizível pelo rubro-negro, afinal, foi um flamenguista que eu amava que respeitou meu desejo de ser Fluminense, ainda quando menino.

Admiro a mística da camisa do Flamengo, a torcida fantástica e a raça inacreditável. A idade permite a gente certo distanciamento das paixões futebolísticas. Não perco meu tempo mais torcendo contra time algum (ou quase nunca, como canta Lulu Santos). Vejo o jogo. Foi nessa condição que assisti Flamengo e Santos nesta quarta-feira, como um mero expectador e apaixonado pelo futebol.

Quando o Santos fez três à zero, com aquele timaço que tem, pensei comigo, isto para o Flamengo não quer dizer nada, Flamengo é Flamengo. Deu no que deu, em uma noite que entrará para a história do futebol, Ronaldinho Gaúcho resolveu acabar com o jogo e com a marra do Santos, e assim o fez, detonou a Vila Belmiro, detonou Ganso, Neymar, Muricy e companhia, e colocou o Flamengo no patamar de um dos grandes favoritos ao título do brasileirão 2011.

Com a chegada do zagueiro Alex Silva, a saída talvez do Angelim, um pouco sem velocidade para zaga, e quem sabe, a entrada de um homem de frente no lugar do Deivid o Flamengo tem tudo para conquistar o hepta. Se na partida das 19h30m tive o sofrimento de ver o Fluminense jogar (meu pai tinha razão!) e perder, na partida das 21h50m tive a maravilhosa satisfação de ver um jogo digno do melhor futebol brasileiro, um jogaço épico, vencido por aquele time que possui a verdadeira vocação da vitória, em qualquer lugar, em qualquer estádio, e contra qualquer time, Flamengo é sempre Flamengo.

Pai, você tinha razão!

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