O cinema do Abílio em Areal
Tenho redescoberto o cinema , que coisa boa. A vida é assim , vamos caminhando e refazendo os caminhos . Nós fechamos as portas , porém , o desejo que não tem compromisso conosco , mas com ele próprio e seu nariz, reabre-as. Ainda bem que é assim. É o caso entre mim e ele, cinema. Desde tenra idade frequentei o cinema do senhor Abílio em Areal . No entanto, cresci e retrocedi, troquei o cinema pelos livros, precisava tanto meu camarada? Perdi eu, e a bilheteria deixou de faturar.
Assisti há poucos dias o filme “Cilada .com ” no Independência shopping em Juiz de Fora , que tarde maravilhosa com a família . Semana passada – deixei o Fluminense de lado , o que não é pouca coisa – e zarpei domingo à tarde para Petrópolis, e assistimos “Qualquer gato vira-lata ”, eu , Isadora, Izadora e Alexandre, e como eles dizem: ─ muito show ! Hoje pretendo assistir “Meia-noite em Paris” de Woody Allen.
A verdade é que nos dias atuais tem até “sala de cinema ” em casa , home theater e o que se quiser e o dinheiro der, porém , nada se compara a estar na sala de um cinema . Meu diretor predileto Woody Allen, assiduamente aparece em seus filmes, numa sala de cinema com a tradicional pipoca em mãos . É um sábio . Hoje mesmo , assisti em casa ao DVD, “A última noite de Boris Grushenko”, de Woody Allen, imagino este filme numa sala tipo a de Juiz de Fora , seria ainda melhor o que já é maravilhoso . Que filmaço!
Senhor Abílio, proprietário do cinema, era um homem alto, pele branca, cabelos e bigodes brancos, um senhor educado que impunha respeito em todos nós. Fui amigo de infância de abilinho ─ filho dele ─ morávamos na mesma rua , ele é uma pessoa muito agradável , acho que não gosta de cinema como o pai gostava, abilinho prefere os bichos , de fato , os bichos são menos complicados que a gente . Ainda me lembro do medo que sentíamos quando havia bagunça no cinema e as luzes se acendiam, silêncio total , e ao fundo ouvíamos a sonora com o esporro do senhor Abílio: ─ vocês querem continuar a ver o filme , ou vão me obrigar a parar a sessão por causa do barulho ? Eu ficava gélido em minha cadeira , tinha pavor só de imaginar levar um esporro do senhor Abílio, seria o “mico total ” como se diz hoje .
Na juventude de meu pai ele trabalhou por muitos anos como operador de máquinas ─ era este mesmo o nome da função ─ do cinema do senhor Abílio. Ele era louco por cinema e também pela música ─ noutro dia falarei sobre música , prometo. Diz minha mãe que começou a namorá-lo com paqueras no cinema . Fico pensando como seria Areal hoje com um cinema . Infelizmente , no local onde existia o cinema está funcionando uma “igreja evangélica ”, de certa maneira o dinheiro continua tendo um alto valor (R$) lá, se te serve de consolo, desculpe-me senhor Abílio, exagero meu.
Curiosamente, ainda não conheço o cinema de Três Rios, não deu tempo, “estou em construção” como diz aquelas placas de obras. Enfim, de certa forma , sou filho de um “cineasta ”... viver é redescobrir , foi preciso escrever tudo isto para entender porque me sinto tão feliz na sala de um cinema... é genética... vida boa sô.
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