A festa do corpo

O filósofo alemão, Immanuel Kant (1704-1804) não podia prever até que ponto, dois séculos depois, seu conceito de dignidade seria totalmente chacoalhado. Para o filósofo, “as coisas tem preço e o ser humano tem dignidade”, portanto, ser humano não tem preço, logo, seu corpo, matéria onde se expressa o humano, também é imprecificável, será?

Como ficaria a definição de Kant nos dias atuais? “Tudo tem preço, depende do que for combinado”. E a dignidade kantiana? O que mesmo você perguntou? Fala sério hein...

Imagino se Kant pudesse acessar a internet nos dias atuais, ficaria estarrecido (ou, encantado, afinal, quem conhece as entranhas do ser humano?). Cirurgias de embelezamento para todos os lados: põe peitinho, põe peitão, tira peitinho, tira peitão, bota bunda, tira bunda, coloca prótese peniana, enfim, é a festa profana do corpo, um mundo que Kant não conheceu.

Dia desses vi um cartaz nas ruas aqui de Três Rios. Veio a cidade o conjunto – se se pode dizer assim - a “Gaiola das Popozudas”, qual seria as músicas por elas cantadas? Vejam alguns refrãos: “quero te dar... quero te dar...”, outra: “que to pegando fogo... tô que to pegando fogo...” Foi sucesso total na cidade, os ingressos bombaram. Quando fui comprar o meu, já estava esgotado, tudo dominado.

E tem mais, na tevê tem aos borbotões: mulher melancia, mulher melão, mulher bananinha e por vai a festa de hortifrutigranjeiros.

A mulher do Belo, cantor romântico pagodeiro, fez aniversário e ganhou dele de presente, um bolo cuja imagem é ela própria deitada de bruços, mostrando aquela parte do corpo que mais a identifica: a bunda. A festa do corpo abunda (com trocadilho) por todos os cantos do planeta.

E a festa não é para os homens. Eles também são objeto de consumo, exemplo atual, são os “Clubes das Mulheres”, onde os sarados desfilam o corpo para as frequentadoras, que são exclusivamente mulheres, inclusive, em festas de despedidas de solteira.

No início do mês de junho agora, o site da Revista Exame do Grupo Abril, anunciou que um estudante chinês recebeu 20 mil iunes (U$4,9 mil reais) pela venda de um rim seu, para comprar um Ipad2 da Apple, conforme noticiado pelo jornal chinês Shangai Daily. Evidente, que a cirurgia foi realizada sem o consentimento dos pais do garoto (será?) conforme noticiado. O comprador não está arrependido, acha que fez um bom negócio.

Viva a liberdade do corpo! Será? É como diz aquele refrão da famosa música sertaneja, “é tudo tão real, mas, nada normal”.

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