"O trem atropelou a moça ali"

Fomos sábado à Juiz de Fora, no Shopping Independência, assistir ao filme “Cilada.com”. Excelente, rimos muito, do início ao fim, a atuação do Bruno Mazzeo é hilária e o filme tem um pique sensacional. Na volta ao chegar a Três Rios, atravessamos para o lado de lá, para buscar Sarah que estava na festa em casa de uma amiga.

Aqui em Três Rios, a linha férrea que atravessa a cidade desde sempre é um divisor da cidade, portanto, costumamos dizer que uns estão do lado de cá da cidade e outros do lado de lá, tendo sempre como referência a ferrovia que corta todo o centro. Portanto, a festa onde Sarah estava era do lado de lá, e nós moramos do lado de cá da cidade. A rede ferroviária e a cidade de Três Rios têm suas histórias umbilicalmente unidas.

Na volta, a família toda reunida, já com Sarah no carro, paramos para aguardar a passagem do trem, quando de repente, um barulho forte e tudo ficou parado. Aguardamos uns dez minutos e nada. Resolvi descer do carro e ir mais a frente perguntar o que estava acontecendo, quando então um funcionário da rede me disse: − o trem atropelou a moça ali!

Pela primeira vez havia me dado conta real do risco que é a ferrovia para cidade. Infelizmente, em Três Rios não há cancelas nas passagens do trem, e o povo transeunte fica totalmente exposto ao perigo, ontem, como sói acontecer frequentemente, foi vitimada mais uma pessoa. Não sei o que aconteceu com a “moça”, mas esta coluna é em homenagem a ela, pois ainda estou abalado com a notícia, “o trem atropelou a moça ali”.

Não é rara a notícia na cidade: trem atropelou carro (ou vice-versa, como queira caro leitor); trem atropela ciclista, trem atropela transeunte... enfim, segundo meu cunhado, que mora do lado de lá e próximo a linha do trem, ele passa de 15 em 15 minutos, desconfio que este lapso de tempo seja verdadeiro, porque sempre que passo para o lado de lá, quando tento voltar para o lado de cá, está lá o trem impedindo o meu retorno.

Com um fluxo de transporte férreo desta magnitude é claro que a população está muito exposta aos acidentes, ainda mais com o número crescente de pessoas circulando pelas ruas trirrienses. O governo promete resolver um pouco esta situação com a construção (já iniciada) de um viaduto sobre a rede férrea, porém, o que penso ser o mais imediato é a construção de cancelas em todas as passagens de níveis, afinal, é inconcebível a ausência de cancelas na cidade.

O poder público tem como missão principal cuidar da saúde e da segurança de seu povo, evidente que em uma cidade cortada por uma ferrovia a proteção dos cidadãos que por ela passam deve ser prioridade, e lamentavelmente, até hoje não o foi, por isso, “o trem atropelou a moça ali” sábado.

Diz Diogo Mainardi que “o dever do escritor é desconfiar de tudo e, sempre que possível, amolar os poderosos” (Tapas e pontapés, 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005, pág. 14). Eu não chego a tanto, mas “que o trem atropelou a moça ali” atropelou, e isto eu senti na pele, e como cidadão trirriense não poderia de lamentar mais um acidente em nossa linha férrea sem que tivéssemos a cautela necessária que talvez pudesse evitar esta tragédia, qual seja a colocação de cancelas por todas as passagens de níveis da cidade, quem sabe se elas existissem o “trem não haveria de atropelar a moça ali?”.

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