São Marcos vai aposentar

Perde o Palmeiras. E perde o futebol brasileiro um personagem único: o goleiro Marcos, apelidado também de São Marcos, pela quantidade de pênaltis e bolas difíceis que defendeu durante sua carreira.

Marcos foi campeão do mundo em 2002 com a seleção de Felipão, e tem no currículo mais do que uma carreira vitoriosa, é detentor de uma postura rara no mundo do futebol: autenticidade. Ah! Quanto falta isto no futebol atual: autenticidade. O último que me lembro ser autêntico era Romário. Sempre falou o que queria e com fineza de humor. É verdade, pagou um preço alto por isto. Até em Copa deixou de ir. Mas, o baixinho nunca abriu mão de falar o que pensava, exemplo, “Pelé de boca fechada é um poeta”.

O problema é que raramente o jogador de hoje, pensa. É só “professor pra cá”, “professor pra lá”, “o professor disse”, “o professor mandou”. Marcos não. Há poucos dias atrás o Palmeiras tomou um sacode de 5x0 do Curitiba, e Marcos saiu do campo atirando: “se eu soubesse que os caras não iriam jogar, nem teria entrado em campo”, “mesmo se tivéssemos dois goleiros debaixos da trave não evitaríamos esta goleada”. Com Marcos é assim: na lata e sempre com humor. Já estou com saudades de São Marcos que disse se aposentará em dezembro agora.

Marcos nunca fez tipo de líder, ou de buscar uma marca pessoal, ou mesmo de tentar ser autêntico. Ele é assim, é da natureza dele, jamais você viu ou verá uma entrevista dele pós jogo falando abobrinha, pode parar e ouvir que sempre sai coisa boa e hilária. Domingo passado ele concedeu entrevista a Carol Knoplochy do GLOBO, que reputo de indispensável leitura. Destaco algumas passagens.

“Não quero parar como um cara que se arrastou pelo campo”. Sobre sua relação com Felipão, “Nunca abusei do moral em nenhuma situação. Mesmo quando estava bem e ouvi cobras e lagartos do Felipão, abaixei a cabeça, escutei e fui treinar. Ele era o técnico. Se elogiou, agradeci. Sei o meu lugar. E ele sempre soube que podia confiar em mim porque jamais iria apunhalá-lo pelas costas”. Sobre as camisas que coleciona, onde guarda? “Em malas. Às vezes, quando um muito rival vai jogar uma final, saco a camisa do adversário e visto em casa (risos)”.

Falando sobre o fato de ser torcedor fanático do Palmeiras, “Sempre torci pelo Palmeiras! Não se joga na Coca-Cola e torce pelo Guaraná Antarctica”. Como era do interior, falou a jornalista sobre sua adaptação à capital paulista, “Minha cidade tem cerca de cinco mil habitantes. Cheguei a São Paulo e fiquei três meses para ir ao shopping porque achava que tinha de pagar entrada (risos)”

Está é hilária, veja. Quando o Palmeiras jogou a segunda divisão do brasileirão, teve que ir a Garanhuns-PE. O campo era péssimo, Marcos antes de embarcar falou que o Palmeiras não poderia se sujeitar a jogar em um pasto no meio de cabritos. Diz ele, “Era um jogo importante, contra o Sport. Quando cheguei à cidade tinha uma faixa assim: “aqui pode ter pasto, mas a vaca da sua mãe não come aqui”. Fui aquecer perto do público e chovia tijolo”. Sobre sua aposentadoria, o que fará? “tem duas coisas que vou fazer já a partir do primeiro dia de aposentadoria: não vou mais acordar antes do meio dia nem cumprir horários rígidos. Ah! E quero ficar muito gordo! Mas depois da despedida, hein! (risos)”

Que maravilhosa entrevista, destaquei alguns breves trechos, para você leitor saber quem é como será lembrado este goleiraço São Marcos. Não sei do que sentirei mais falta se dá da autenticidade dele, ou se seu toque magistral do “não politcamente correto” ou, de suas maravilhosas defesas pela seleção brasileira. Feliz aposentadoria Marcos, e fique gordo, um gordo feliz! 

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