Ir à Missa, ou não
Eis a questão. Uns vão à missa talvez porque almejam o aumento da fé em Jesus Cristo. Querem a paz e ser feliz. Outros não vão, porém, por óbvio também querem a paz e a felicidade. Caminhos... caminhar se faz caminhando já dizia o poeta.
No grupo dos que optaram por ir à missa, uns “entendem” tudo da missa, por exemplo, aqueles que assistiram os dois DVD’s do Pe. Paulo Ricardo sabem tudo sobre a missa. Sabem intelectualmente.
Porém, ainda dentro do primeiro grupo, outros vão à missa “sem nada” compreender do mistério pascal celebrado. Vão, sentam, ouvem, meditam ou não, contemplam, comungam ou não, e vão embora. Entram em silêncio, reverenciam, se espantam diante do mistério, e vão embora, sem muito “compreender”, mas certos de que vivenciaram o mistério da fé como é dito no cume da celebração pascal, são os soldados de Cristo.
Digamos que dentro deste primeiro grupo, então, há dois perfis: os intelectuais e os soldados de Cristo.
Há ainda, um terceiro grupo, o grupo que é o maior. O daqueles que sequer vão à missa, afinal, o que lá pode ocorrer de seu interesse pessoal e existencial? Neste grupo as dúvidas sequer são colocadas, e se o são, buscam-se respostas em outros caminhos extramuros. Nada mais legítimo, liberdade de viver.
Trabalhemos com o primeiro grupo e seu duplo perfil. Ir a missa é muito mais admitir-se participar deste mistério do que compreender algo. É muito mais submissão do que comando. É muito mais silêncio do que som. Por isso, missa com muito barulho está mais para festa do que para culto ao mistério pascal. Admitir este alto grau de incompreensão na participação de uma missa é imperativo inexorável para quem quer se aproximar do culto à fé cristã. Quanto mais se “compreende” uma missa mais se tem vontade de não ir, quanto menos se “compreende”, ao revés, mas se aceita estar ali naquela condição de “incompreensão”, mais perto se estará do mistério pascal, e quiçá do desejo de estar ali.
Compreende-se o filme num cinema. Vivencia-se uma missa. Lá, arte, aqui, mistério de fé. Vivemos uma época de intoxicação compreensiva e pouca vivência contemplativa. Onde sobeja compreensão, falta meditação.
Por exemplo, a missa não responde estas indagações abaixo postas por Luis Fernando Veríssimo, in, “Conversa sobre o tempo”, Rio de Janeiro: Agir, 2010, p. 227, “Eu acho que a vida é uma coisa tão misteriosa que qualquer explicação para ela não é mais improvável do que outras. Foi Deus que criou o mundo? Não posso provar que não. Será que o mundo é carregado nas costas de um elefante? Tem uma seita na Índia que acredita. Pode ser. Quem vai dizer que não é isso? Então, meu ceticismo é isso aí. Qualquer explicação para a existência, enfim, para o mundo, para o universo, é tão provável e improvável quanto qualquer outra”.
De fato, diante de tais questões ir à missa não fornecerá um manual de autoajuda apropriado. A missa não “resolve” o mistério de nossa existência nos moldes de 2+2=4, a missa o aprofunda ainda mais ao reafirmar a celebração da lembrança do improvável. O improvável que teima há dois mil anos em se fazer provável no meio de nós, no sacrário de cada Igreja. Cultuar isto é manter acesa em nós a fagulha de uma esperança otimista, o improvável se fez provável. O improvável se deu (Deus) a nós. Tudo o mais é graça ou não de Deus. Ir à missa, ou não, é isso, ou quase isso.
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