Leis da natureza
Acho até engraçada esta expressão cunhada pela modernidade, “leis da natureza ”. Parece até que Deus assinou um contrato com a natureza que Ele tem que obedecer , sob pena de pesada multa por inadimplência . Ora bolas , isto é um absurdo total . Com poucas leituras , por exemplo , de Olavo de Carvalho se percebe isto .
As “leis da natureza ” são nada mais nada menos do que expressões que nós demos a certas “regularidades parciais ”. Tudo , além disso, é cara-de-pau . É verdade que a ciência trabalha a partir destas “regularidades parciais ”, exemplo , temperatura do sol , velocidade da luz etc, não obstante há um quantum de inafastável “relatividade” (antevista por Einstein) em toda esta base empírica científica . Daí o gritante equívoco em a partir da análise de tais “regularidades parciais ” nominá-las “leis da natureza ”, é um erro medieval , se bem que na Idade Média um camponês que cuidava de suas ovelhas sabia que as regularidades eram parciais , noção esta de realidade infelizmente perdida pós-renascença. E ainda se tem a desfaçatez de alcunhar este período pós-renascença de “iluminismo ”. Alto lá né.
Vimos de ver por estes meses vários fenômenos que mostram o elemento surpresa na natureza , que mostram como a realidade infinita se impõe ao universo limitado, exemplos , o terremoto e a tsunami no Japão, as chuvas na Região Serrana , o tornado nos EUA, as recentes chuvas na Praça da Bandeira no Rio de Janeiro , enfim , a natureza encontra meios de desmentir a “precisão ” da ciência humana . Poucos povos existentes na face da terra detêm tanta tecnologia como o Japão e os EUA, no entanto , as “leis da natureza ” teimam a não se revelar por inteiro a eles , ou melhor , se revelam só parcialmente . A razão é simples : Deus não assinou nenhum contrato com a natureza , sejamos então , prudentes , pacientes , perseverantes, e máxime : humildes .
O homem pós-moderno (O Deus está morto de Nietzsche) absolutiza a ciência e relativiza a estrutura metafísica da realidade , resultado = ilusão de ótica .
Noutro dizer , os “modelos ” criados pelo homem para entender a natureza não podem substituir a própria realidade , toda vez que substituímos a realidade por modelos caímos em erro . E tal raciocínio se aplica a todas as áreas do conhecimento , inclusive , a minha , o Direito , onde vemos com freqüência modelos teóricos que se fecham ao real , criando um mundo próprio alheio à realidade , é o chamado “positivismo ingênuo ”.
O mundo atual vive esta crise do conhecimento . Fechamos-nos numa espécie de “jaula do conhecimento ” e passamos ver a “realidade ” através de um parco e míope olhar . É nesta hora que cresce de importância a presença do filósofo nos moldes originais propostos por Sócrates, ou seja, ao revés de se criar modelos para explicar a realidade , o filósofo deve apenas desde a posição em que está iluminar aquele setor da realidade que está ao seu alcance , deixando assim aberta a perspectiva infinita em sua volta . O problema dos modelos é justamente este , eles inexoravelmente fecham o sujeito na “jaula do conhecimento ”. Geram “conforto ” na selvageria do real , porém , o real sempre se impõe e arromba a jaula .
A cegueira é tanto que quando se propõe em uma universidade a discussão de que o mundo atual está fechado à realidade , porque nega o infinito , tal assertiva é chamada de obscurantista , ou seja, a proibição da discussão é “iluminada” e a discussão é obscurantismo . Durmam vocês com uma doideira desta!
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