Filme - Homens e deuses

Por intercessão do meu amigo Rodrigo Stankeviz, que me enviou o link, assisti ontem o belíssimo filme “Homens e deuses” de Xavier Beauvois, premiado no Festival de Cannes. O filme retrata uma história real dos anos 90. Uma pequena comunidade de monges cistercienses vive no Norte da África, na Argélia, numa época de intenso terrorismo. Os monges – ramo pobre dos beneditinos – levam uma vida austera (ora et labora) prestando serviços à comunidade (muçulmana que os envolve.

Com vinte minutos de filme o clima já está tenso. O terrorismo se intensifica e a violência a cada momento vai colhendo a todos, e governo argelino também é violento. Aliás, o próprio governo argelino – atacado pelos terroristas, recomenda os monges a deixar o local, é aí que começa o drama existencial.

Abandonar a comunidade? Abandonar o serviço a Cristo naquela região? Não seria também uma fuga da missão? O monastério é conduzido pelo Abade Christian que geralmente em torno de uma mesa de refeição (lembrando a última ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo), discute com cada um dos monges se eles devem ficar ou sair do monastério. A cada noite, a cada decisão o dilema da fé diante do mal e diante da morte iminente se intensifica.

As cenas, os diálogos tensos, mas sempre fraternos entre os monges, o cenário que possui uma natureza deslumbrante, vão dando dimensão a beleza do filme. A certa altura, numa dessas reuniões, um monge reflete: - será que estamos aqui praticando um suicídio coletivo? A cada momento, ou partir ou ficar vem à tona. A dor da decisão é intensa, mas sempre conduzida com lucidez e rara fé pelo Abade Christian.

Há um monge que é médico, e passa atender mais de uma centena de pessoas por dia, já que atende a comunidade muçulmana local atingida pela guerra. A dedicação deste monge, o amor ao Nosso Senhor Jesus Cristo é de uma sensibilidade tocante. Uma jovem local perguntou a ele – que também era uma espécie de conselheiro - o que era o amor e ele foi explicando para ela com muita sutileza e ao final falou: - eu também amo uma Pessoa há 60 anos!

Ao final todos os monges estavam cientes que iriam para o holocausto assim como Nosso Senhor caminhou livremente para cruz. Tanto que num diálogo lindo entre o Abade Christian e outro que estava à beira da loucura, o Abade disse: “você já entregou a sua vida a Cristo”, pense nisto, quando então ambos choraram e o monge pediu perdão ao Abade por estar fraquejando na fé.

Embalados em cantos maravilhosos, muita oração e serviço à comunidade, os monges vão caminhando em direção a morte, cientes de que como disse o filósofo Pascal - citado pelo monge médico no filme e bem lembrado por Luiz Paulo Horta no GLOBO – “nunca ao longo da história, se praticou a violência com tanto desembaraço como nas guerras de religião”.

A dramaticidade da cena da última ceia entre os monges é épica, e propositalmente nos remete a última ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Xavier Beauvois consegue extrair o máximo desta cena. Enfim, fica a lição de uma profunda unidade de vida dos monges. Entre eles não há divisão entre aquilo que professam e a forma como vivem, não, tudo é coerência e unidade. A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo é una ainda que isto custe a morte de cada um deles.

Como diz o imortal Luiz Paulo Horta, presidente do Centro Dom Vital, falando sobre o filme: “Aqueles rostos grave me lembram as cenas finais do “Sétimo Selo” de Bergman, em que a morte vem buscar as pessoas, e elas parecem iluminadas por uma luz que já não é deste mundo”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poema esquisito - Adélia Prado

O homem em oração - Bento XVI