O generoso é aquele que faz mais. Faz além do que devia. Dá sem visar a recompensa. Na sociedade atual estamos carente desta generosidade. O capital oprimiu a generosidade, tudo virou business, troca, recompensa. Até na arte – local por excelência da generosidade - a criatividade está a ceder seu espaço à força do capital.
Como pensar um artista “vetado” de expressar sua arte em virtude de um “bloqueio” do mercado? Com ver aquele filme que o mercado não tem interesse (R$) em exibir? Enfim, a generosidade está enclausurada em guetos aqui e acolá, numa noite de poesia, por exemplo, numa obra social como o Asilo São Vicente de Paula em nossa cidade.
Quem puder ler a entrevista do ator Pedro Cardoso, 12/05/2011, “Segundo Caderno” do GLOBO, verá algo parecido com isto que venho de dizer. Para Pedro Cardoso, por exemplo, filme tem que ter nudez para “funcionar” no mercado. Para ele “90% dos trabalhos que estão no mercado têm cenas de nudez”. Ele desafia “que se apontem dez atrizes que tenham chegado ao estrelato sem fazer cena de nudez”.
Enfim, não há sequer liberdade artística, ou põe mulher pelada nos filmes ou filme não tem mercado. E o pior, segundo Pedro Cardoso, é que “o mercado não chama isso de pornografia, porque seria moralmente ofensivo, tratou-se de disfarçá-la como um comportamento natural. Como se fosse natural toda hora os personagens tomarem banh0”.
Ou seja, o rei está nu mas ninguém grita: O REI ESTÁ NÚ!
Falta liberdade individual porque falta generosidade na sociedade, tudo é mercancia, e, por conseguinte, o ser humano virou puro “objeto de troca”, assim como o dinheiro. Monetarizamos a liberdade humana. Concordo com o Pedro Cardoso quando ele bem anota: “É preciso devolver ao ator a autoridade de seu próprio trabalho. Não é possível que ele seja subjugado e constrangido pelo capital. E a nudez é apenas o aspecto mais evidente dessa opressão”.
Precisamos repensar nossos relacionamentos com outro, com nós próprios, com a natureza e com Deus. Nos dias atuais tem gente negociando até com Deus, por exemplo, a chamada “teologia da prosperidade” pregada por tantas “igrejas”, diz e afirma que se você der um GOL 1000 para “igreja”, receberá dentro em breve um GOL 1.6, veja que maravilha!
Tudo é vantagem, tudo é troca, tudo é bilateralidade. Enfim, é neste quadro devastador que indagamos: onde está a generosidade humana? Não somos só instinto – mulher e homens nus de fato chama a atenção – somos também alma e razão, e a cultura é um bem produzido pela razão, daí porque está perfeito quando Pedro Cardoso sustenta que a cultura está de cócoras diante do mercado.
Ou fiquemos todos pelados, ou restaure-se a generosidade como dizia em outras palavras o saudoso Stanislaw Ponte Preta! É preciso romper esse vício de troca. Para tanto, o amor é o antídoto e a generosidade seu corolário.
Nosso Senhor Jesus Cristo conta-nos a seguinte parábola no Evangelho de Lucas 14, 12-14: “Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos ou irmãos ou parentes ou os vizinhos ricos; porque eles, por sua vez, te convidarão e ficarás pago. Quando deres um banquete, convida pobres, mutilados, coxos e cegos. Feliz de ti, porque não podem pagar-te; pois te pagarão quando ressuscitarem dos justos”.
Esta é a típica generosidade desinteressada expressada por Deus aos homens.
Onde e como estará a generosidade desinteressada em nossa vida?
Comentários