Sexo casual


Sobre o conceito de liberdade muitas correntes filosóficas se manifestam. Liberdade como direito de fazer tudo que se quer desde que não fira o direito do outro, liberdade como maximização da felicidade em contrapartida com a dor, enfim, liberdade é sempre um tema recorrente e atual.

Kant no século XVIII, secundado por Alceu Amoroso Lima no Século XXI, dizia que liberdade é fazer o que se deve. Mas o que se deve fazer? Tratar a todos como seres humanos que são um fim em si mesmo, jamais um meio. Evidente que isto é um princípio moral, portanto, não empírico, não sensível, mas racional ou categórico na linguagem kantiana.

O tesão é amoral, porque puro desejo. O desejo não reconhece a lei, senão a lei do desejo. O homem é um animal racional já o disse Aristóteles. Animal, quer dizer, fome, vontade, desejo, paixão, pura biologia. Todavia, também o é razão. É a razão que diz para o homem que ele é um sujeito que tem dignidade por si só. A razão não é uma lei externa ao homem, é uma lei interna, reconhecida pelo próprio homem.

O sexo é da ordem do natural, mas regido pela razão. Dizem de há muito que em matéria de sexo, quanto menos razão mais tesão. É verdade, a razão atrapalha. No entanto, o tesão não pode ser uma regra universalizável, senão seria o caos. A regra universalizável é o homem como ser dotado de dignidade humana, de maneira que o sexo não é um fim em sim mesmo, mais o encontro de pessoas que se amam e sentem tesão. O tesão não é cronológico é biológico. Amor, envolve tristeza e alegria e também tesão, nunca só tesão. Quem vive exclusivamente do tesão já coisificou o outro, ainda que com o consentimento dele, pago ou gratuito. Lembre-se: liberdade é dever.

A filosofia kantiana pode nos ajudar neste particular propósito, pensar o sexo casual. O homem não está à disposição de si. A dignidade do homem é tanta que ele não pode sequer dispor de si, razão pela qual é imprecificável. Os libertários contemporâneos defendem que o homem é dono de si, todavia, tal teoria coisifica o homem e rende ensejo há muitas barbáries nos dias atuais e sempre, por exemplo, comércio de órgãos de seres humanos, prostituição, escravidão etc.

É evidente que o homem quando reduzido ao puro tesão se inferioriza. Não se trata de diminuir a função sexual no homem, mas sim de elevar o homem a outra estatura. O sexo casual é a coisificação do sexo. Eu sou teu objeto e você é meu objeto. Dá tesão, dá. Mas, é pouco. Não somos bifes uns dos outros, nem batata fritas. Você tem fome de que? Você tem sede de que? Canta os roqueiros dos Titãs.

Já o sexo não casual pressupõe a entrega total, entrega de corpo e alma na alegria e na tristeza e em todos os aspectos. A vida é feita de escolhas, por isso temos que optar entre uma ética de consentimento ilimitado (sexo casual) ou uma ética de respeito pela autonomia e dignidade do indivíduo (sexo não casual). Há tesão nas duas? Pergunte ao Kant.

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