Prateleira dos sintomas


O psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980), dizia que, “assim como cada tempo tem seus problemas técnicos e específicos, os problemas humanos também são específicos da cada tempo”. Noutro dizer, o canadense Edward Shorter também autor de uma teoria sobre as interações do sofrimento psíquico com o contexto social, cunhou a expressão: “prateleira dos sintomas”, aplicável a cada época da vida humana. (Cf. No reino da mente americana, Veja, 23/11/11, p. 167.

Luana é uma mulher de sua época. Casada com Wallace, formam um belo casal. Luana está estudando para passar numa prova de residência médica no Fundão. Em razão da tensão vivida teve diagnosticada a “síndrome de pânico”, seu médico aconselhou-a a andar com um comprimido de Rivotril sublingual de 0,25 mg em sua bolsa pessoal, para quando dos surtos.

Wallace seu esposo, também é um jovem antenado com o presente. Focado nas tecnologias do mundo atual trabalha numa multinacional. Em virtude do grande estresse a que é submetido cotidianamente teve diagnosticado a “síndrome do cólon irritável”. Nemm tudo são doenças. Para alegria do casal tiveram um filho lindo, Pablo. Nos primeiros meses na escola o casal notou que Pablo não era um menino “normal”, irrequieto, desatento, e sem uma boa dicção, foi encaminhado a um médico, que constatou que o menino era portador de TDA (transtorno de déficit de atenção).

Por recomendação médica, sobretudo para alívio dos sintomas advindos de vidas corridas e estressadas, se matricularam em um academia de ginástica. Assim começaram a fazer power jump, boody pump, budy combat e tantos outros exercícios. Luana a cada dia ficava com o corpo mais sarado, e Wallace não ficava para trás. Com o passar dos dias Wallace começou a sentir dores fortes nas costas e foi diagnosticada, uma hérnia de disco. Teve que parar os exercícios para se tratar. Luana não conseguiu dar sequência por que descobriu que o excesso de exercícios só fazia aumentar a sua TPM (tensão pré menstrual).

Wallace viveu um período duro de repouso, sem sequer poder trabalhar na multinacional, o que ocasionou um severo quadro de depressão. Durante o tratamento da depressão o médico de Wallace também diagnosticou que ele sofria de “transtorno bipolar”. Luana abandonou a academia e parou de fazer exercícios, tinha inclusive vergonha de seu corpo com fortes traços masculinos, perna grossa, braços musculosos etc. Radical, partiu para emagrecer a todo custo, até ficar magérrima, ao ponto de suas “amigas” acharem que ela estava sofrendo de “anorexia nervosa”.

Luana passou para residência médica em neurocirurgia no Fundão. Está muito feliz. A síndrome de pânico rareou, a TPM deu uma trégua, porém, vive tendo uma enxaqueca que não quer abandoná-la de jeito algum. Wallace, já refeito do tratamento da hérnia de disco, voltou a trabalhar, e está praticamente com o seu transtorno bipolar sob controle. Pablo, o filho, está em tratamento com um neuropediatra. Desde que começou a tomar Ritalina as coisas melhoram muito para ele.

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