A árvore da vida


Assisti ao filme “A árvore da vida” do norte-americano Terrence Malick, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, agora em maio. Ou o filme está além do que é possível, ou eu estou aquém do que é necessário. Ou, talvez, ambos.

A abertura inicial é linda quando ocorre uma citação do Livro de Jó, do Antigo Testamento, onde Deus pergunta, "Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? ... Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?" Uma luz misteriosa e vacilante, que lembra uma chama, emerge. Esta parte é fantástica, por que de cara demonstra o tamanho ínfimo do homem diante de Deus. Aí Malick acertou em cheio. Adoro de paixão o Livro de Jó.

Também é adorável, como parte da cena inicial, o momento em que a matriarca da família O'Brien diz que na vida temos que optar em viver pela graça ou pela natureza. Lá, generosidade, compaixão, misericórdia, aqui, egoísmo, desejo incontido, ferocidade. No filme a mãe representa a graça e o pai à natureza, pelo menos sob a minha ótica, ainda que o pai em alguns momentos procure ser também generoso com os filhos, o que é raro.

Registra-se que o filme se passa nos anos 50, no Texas, de maneira que a criação nesta época era muito rígida. O casal O’Brien possui três filhos homens, e vive uma vida cristã. Na criação do pais os traços impiedosos da natureza, no olhar e na criação da mãe, a carinhosa graça.

Também achei muito instigante as reflexões dos personagens sempre em off, de maneira que fica difícil de saber qual deles está se indagando. Mas, os diálogos com Deus são interessantíssimos, a saber, ("onde você mora?"), passando pela moral ("por que eu deveria ser bom, se você não é?") até a pura revolta ("Ele envia moscas às feridas que deveria curar"). Forte não é. Toda essa discussão é emoldurada por insistentes planos em contraluz, como que para atestar que aquela luz brilhando ao fundo comprova a presença divina. A busca por Deus também está por trás da overdose de imagens belíssimas. A um jogo exuberante entre a natureza e as dúvidas humanas.

O filme é setenta por cento imagem e trinta por cento diálogo. As imagens chegam a ser extasiantes e até mesmo asfixiantes. Malick faz um contraste poderoso entre a criação divina (natureza) e o desamparo do homem diante disso tudo. As imagens nos impõe isso, ou quiçá, nos esclarece sobre o óbvio.

Sean Pean faz aquele tipo de personagem que é a sua cara, um sujeito desconcertado no mundo, ele faz o papel de um dos filhos já adulto revivendo as memórias de seu passado. Brad Pitt é o pai, com sua rudeza e seu afeto, muitas vezes só revelado no dedilhar de seu piano (é um músico frustrado).

Para mim, se o filme estivesse terminado nos primeiros cinco minutos eu bateria palmas de pé, ficaríamos com a citação do Livro de Jó, a definição de graça e natureza e as imagens fabulosas. Todavia, o problema é que têm mais cento e trinta e três minutos de DVD, aí o bicho pegou em complexidade.

Comentários

David Cotos disse…
Me gusta la película por el mensaje que nos invita a reflexionar.

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