Os prisioneiros
A vendedora me apresentou um recente , que nem anotei o nome , mas que tratava de contos . Sentei-me e li o conto sobre “axilas ”. Aterrorizante e lindo . Isto é que literatura , perguntei-me. O personagem do conto é um sujeito tarado por cheirar as axilas das mulheres , o camarada tinha um verdadeiro prazer nisto. Para ultimar os seus desejos teve que matar a vítima que sentira ofendida. O texto é de fato muito bem urdido e o final surpreendente , porém , não vou contar a você , seria um despropósito meu .
Entreguei o livro à vendedora, fui-me embora para o cinema e não o comprei, mas fiquei impactado com o conto de Rubem Fonseca. Passou. Dia desses estava eu na Cia do Livro em Três Rios , visita que faço também habitualmente , e pus-me a olhar a estante de autores nacionais e lá me deparei novamente com Rubem Fonseca, desta feita , sem axilas .
Olhei alguns livros dele e me interessei por “O seminarista ”, mas não sei porque acabei comprando “Os prisioneiros ”. Apesar de ter lido a orelha do livro e mais alguns detalhes , não cheguei a notar que este é o primeiro livro dele que foi publicado. É uma coletânea de contos interessantíssima datado de 1963 e reeditado recentemente pela Agir .
Rubem Fonseca retrata o ser humano como ele é, e não como ele deveria ser , não faz juízo de valor , o violento é violento , o apaixonado é apaixonado, o pamonha é pamonha , o babaca é babaca e assim por diante , ele não tem dó do ser humano . E será que é para ter dó do ser humano ? Rubem Fonseca não responde esta pergunta , apenas retrata-o na sua crueza, o que já é muito . Rubem Fonseca é um escritor recluso, dizem que tem 86 anos (não chequei este dado), e costuma dizer que “sua obra fala por si ”, não é de dar detalhes de sua vida .
Ao ler “Os prisioneiros ” a gente fica com aquele desejo de ler mais Rubem Fonseca. Li em “Os prisioneiros ” o Rubem Fonseca de 1963, e li no conto “Axilas ” na livraria em Juiz de Fora o Rubem Fonseca de 2011. Não mudou muito , as obsessões de lá estão cá , assim é a nossa vida , nós e nossas obsessões .
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