Os chatos fundamentalistas
Estava eu  tomando café  da manhã  num hotel  em  São  Paulo , lembrei-me que  era  quinta-feira , dia  que  Contardo Calligaris escreve na Folha .  Procurei o jornal  e pus-me a ler  a sua  coluna  intitulada, “Sentidos  do fundamentalismo ”, durante  o café . 
Dizia Calligaris: “Fundamentalista  é, antes  de mais  nada , quem  leva  a sério  sua  convicção  e segue à risca  os preceitos  que  derivam dela. Se você  for católico , não  se divorciará nem  comerá carne  na Sexta  da Paixão . Se for judeu , no sábado , evitará ligar  a luz  elétrica ; se for muçulmano , não  tomará álcool  e, caso  seja mulher , circulará de véu  fora  de casa ; se for ateu , não  invocará a misericórdia  divina , nem  mesmo  em  momentos  de extremo  perigo ”.
Digo eu , penso  que  todos  têm direito  as suas  convicções , sejam atéias ou  crentes . O problema  no plano  religioso  está na interpretação  ─ falo  aqui  como  cristão  ─ do mandamento  bíblico assim  posto : “Ide, pois , ensinai a todas as nações ; batizai-as em  nome  do Pai  e do Filho  e do Espírito  Santo ." Ensinai-as a observar  tudo  o que  vos  prescrevi. Eis  que  estou convosco  todos  os dias , até  o fim  do mundo ” (Mt 28,19-20). Este  mandamento  a meu  sentir  é interpretado de forma  fundamentalista  por  boa parte  dos cristãos , o que  gera um  grande  desconforto  por  aqueles  que  não  querem seguir  qualquer  religião .
“A Igreja  não  faz proselitismo . Ela  cresce muito  mais  por  'atração ': como  Cristo  'atrai todos  a si ' com  a força  do seu  amor , que  culminou no sacrifício  da cruz , assim  a igreja  cumpre a sua  missão  na medida  em  que , associada  a Cristo , cumpre a sua  obra , conformando-se em  espírito  e concretamente  com  a caridade  do seu  Senhor ”.
Conheço os dois  lados  da moeda  (crentes  e ateus ), e para  mim  os “missionários ” de ambas vertentes  são  uns chatos  de plantão , verdadeiras malas  que  não  respeitam a liberdade  alheia . Tem alguém  mais  chato  do que  o ateu  Richard Dawkins? E aquele  seu  vizinho  crente  que  não  para  de perturbar  para  visitar  a igreja  dele? 
Concordo com  alguns  reparos , com  Luiz Felipe Ponde (“Saudades  de Deus ”) quando  diz que : “crer  ou  não  crer  não  é algo  que  você  escolhe. “acontece”. Grandes  teólogos  como  Santo  Agostinho, Lutero e Calvino diziam que  a “fé  é uma graça ” (simplificando a coisa ), alguns  receberam o dom  e outros  não ... Acho essa idéia  bem  mais  elegante  do que  esse  papo  furado acerca  das necessidades  racionais , sociais , morais  ou  psíquicas da crença .”
É a pura  verdade , a fé  é uma graça  de Deus . Peço a Deus  todo  dia  que  aumente a minha  fé . Os batizados  a recebem no batismo , mas  nem  todo  a mantém. Igualmente , conheço gente  ruim  dos dois  lados : ateus  e crentes . A miséria  moral  costuma não  escolher  os eleitos, é pura  roleta  russa.

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