O talentoso doutor Thales


Eleonora era uma mulher linda. Contava trinta e cinco anos, quatro filhos, mas ainda mantinha o corpo escultural, totalmente delineado a base de muita malhação e dedicação. Era uma mulher pós-moderna. Profissional respeitada e literalmente um mulherão. Porém, Eleonora nutria em si um grande incômodo: seus seios eram flácidos. Também pudera depois da quarta gravidez isso era absolutamente normal.

Vaidosa e ciosa de sua beleza, Eleonora detestava ver a adiposidade de seus seios. Marcelo, seu esposo desde o primeiro beijo, nem ligava (será que não?) para aquilo que a chateava. Pensava consigo: ─ tenho muito que admirar no corpo de minha amada, porque me ateria à exceção? Todavia, Eleonora não pensava assim. A mulher se com o olhar de outra mulher, e não com o olhar masculino, geralmente relapso e distraído, superficial, diga-se. O homem o bruto, a mulher o detalhe, Eleonora não era diferente.

Sem mais nem menos, ela comunicou a Marcelo que faria uma cirurgia para colocar próteses nos seios, com o doutor Thales, um afamado médico da região. Marcelo disse-lhe que não era necessário, porém, aquiesceu de imediato, e no silêncio de seu desejo refletiu: ─ Ave Eleonora, o que é ótimo ficará maravilhoso!

Assim foi feito. Com Eleonora era assim. Pau é pau, pedra é pedra. Mulher de decisões. Eleonora colocou uma belíssima e farta prótese nos seios. Seus seios ficaram enormes e lindos, e mais: hígidos como ela queria. Marcelo acompanhou toda a convalescença e ficou admirado com o resultado. Contava nos dedos à hora de poder se esbaldar em meio aquela obra de arte.

Curiosamente, passaram-se os dias e Eleonora se esquivava de deixar Marcelo aproveitar a novidade. Era sempre a mesma desconversa: toca-me não está doendo, hum, estou sentindo um incômodo, ai, está tudo dolorido. Aquela privação contínua, ao mesmo tempo em que via o resultado excelente da cirurgia, fazia Marcelo sofrer e pensar alternativas. Eleonora se tornara a perfeição, mas, Marcelo se sentia castrado.

Certo dia, a bela Eleonora foi fazer exame preventivo de câncer de mama. Marcelo não a acompanhou. Chegando a casa, Eleonora diz a Marcelo que a médica que a havia atendido na clínica elogiara o resultado da cirurgia, e perguntara a ela: ─ quem fez a cirurgia? Ela respondeu: ─ doutor Thales. A médica retrucou de imediato: ─ ele é um talento, veja que coisa linda ficou seus seios. Estão maravilhosos. Eleonora estava toda cheia de si. Marcelo ouvindo aquilo à mesa de jantar ficou ansioso de imaginar... tanta beleza e eu aqui a ver navios ─ pensou em silêncio diante da bela Eleonora.

De noite, na alcova (termo antigo hein) do casal, Marcelo mais uma vez se aproxima de Eleonora com carícias, beijos amorosos, elogios tantos, naquela estratégia natural que todos os homens conhecem (não é necessário aqui pormenorizar) e meio que gaguejando sussurrou baixinho ao ouvido de Eleonora (que a essa altura estava também empolgada): ─ me deixa usufruir do talento do doutor Thales? Eleonora sorriu docemente e abriu com vagar os botões da camisola transparente, retirou o sutiã e disse com um olhar indecifrável e caridoso: ─ você venceu meu amor... aproveite!

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