A família dos afetos
A UCP está realizando em Petrópolis a sua “XV Semana Jurídica ”. Hoje (09/08) foi meu dia de lecionar lá , de maneira que aproveitei a oportunidade e fui assistir ao “minicurso”, “O princípio constitucional da afetividade e as famílias contemporâneas – na visão dos tribunais ”, brilhantemente conduzido pela professora Márcia Muniz. Não tenho qualquer proximidade com o Direito de Família , todavia , fiquei encantado com a palestra , apesar de não dominar a linguagem deste ramo do Direito .
Comentei com Alexandre em nosso almoço , que estou cada dia mais convencido que a decisão do STF – Supremo Tribunal Federal , recente , sobre a união estável homoafetiva consolidou uma enorme mudança nas relações familiares , o que também fora apontado pela professora Márcia na UCP, pela manhã , em outros termos . A questão do pai biológico está totalmente relativizada diante da figura do pai sócio-afetivo, ou da paternidade sócio-afetiva.
Referida constatação me parece ser mais consentânea ao conceito de “família ” no mundo atual . Numa sociedade altamente complexa como a nossa , restringir o conceito de família a homem e mulher é simplório demais , neste sentido a interpretação do STF dada ao art. 226 e parágrafos da Constituição Federal foi acertada e arrojada .
Miguel Reale desde há muito ensinou que Direito é fato , valor , e norma . Nesta ordem mesmo . O fato social à luz dos valores que o motivaram produz a norma , isto é a teoria tridimensional do Direito . Pois bem . O fato social é a união familiar homoafetiva, seja entre homens , ou entre mulheres , e também a consolidação de famílias onde os pais não são os pais biológicos. O que une todas essas famílias do mundo pós-moderno? Um sentimento , um único sentimento : o afeto .
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, homem sempre a frente de seu tempo , recentemente fez a pedido de seus filhos um exame de DNA para comprovar biologicamente ou não , se Tomás Dutra Schimdt, filho da jornalista da Miriam Dutra da TV Globo era seu ou não , muito embora desde há muito FHC o reconhecesse como tal . O exame deu resultado negativo para paternidade de FHC, no entanto o ex-presidente afirmou: ─ “Vou preservá-lo totalmente . No afeto e nos recursos . Totalmente . É um assunto fora de discussão . E eu gosto muito dele. Isso é que importante ”
FHC acertou mais uma: bingo ! Enfim , o que vale são os AFETOS . Os afetos se sobrepõem ao meramente biológico. Quem sabe esta nova sociedade familiar fundada sobre os alicerces dos afetos não produzirá cidadãos mais justos e menos preconceituosos do que a tradicional sociedade de papai e mamãe ?
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