Nietzsche e o Lava-pés

Fazendo alusão ao evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, o filósofo Nietzsche (1844-1900) sustentava que ele encarnava o “ressentimento” dos fracos contra as naturezas vigorosas, por assim dizer segundo Nietzsche, o evangelho é a “inversão de todos os valores”, um ceifar as asas do decolar humano rumo à grandeza, como nos esclarece Pe. Raniero Cantalamessa ao comentar a obra do filósofo alemão. É que para Nietzsche, tudo que Jesus se propusera seria difundir no mundo, em oposição à miséria da terra, um “reino dos céus”. Daí a idéia dominante na filosofia dele do chamado do homem a ser o super-homem, e também a morte de Deus. Deus faz mal, diz Nietzsche. Digo eu, Nietzcshe errou.

Ao dizer que o evangelho “prega uma revolução negativa”, “uma revanche dos fracos contra os fortes”, “uma involução em comparação com a cultura grega”, ao preferir o servir no lugar de dominar, Nietzsche demonstra claramente que não entendeu o mais belo dom que o cristianismo deu ao mundo: o servir. Lembremos da cerimônia do Lava-pés na missa de ontem.

Nosso Senhor Jesus Cristo de fato fez do serviço um dos pontos chaves do seu ensinamento (Lc 22,25), quando Ele mesmo diz que veio para servir e não para ser servido (Mc 10,45).

Por evidente que o evangelho se choca com a soberba da filosofia nietzscheana. Um obra de Deus, outra, obra do homem. Como ensina Pe. Raniero Cantalamessa, o serviço é um princípio universal; ele se aplica a todos os aspectos da vida, senão vejamos: o Estado deve estar a serviço dos cidadãos, o político deve estar a serviço do Estado, o médico a serviço dos doentes, o professor a serviço dos alunos e assim por diante... somos feitos para servir e não para dominar, porque fomos feitos para amar, e amar é servir e não dominar.

O serviço em si não é uma virtude, mas é corolário de diversas virtudes, por exemplo, da humildade e caridade. Só o humilde e o caridoso sabem compreender o sentido destas virtudes. O amor “não procura só o próprio interesse, mas também o dos outros (Fil 2,4).

O que falta no Brasil de hoje e de ontem, é justamente a eficácia na vida real do verdadeiro sentido da expressão: serviço. Aqueles que ocupam os cargos mais elevados – que na doutrina do evangelho deveriam ser “servo de todos” (Mc 10,44) – justamente são os que mais servem seus interesses próprios. É muito Niztzsche nas escolas e universidades e pouco Jesus, resultado: infelicidade.

Nossa visão de serviço está muito mais para Nietzsche – dominar e se apropriar do que para Jesus – servir o próximo sem procurar contrapartida. Notoriamente, o modelo nietzscheana só gera fracasso, infelicidade e morte.

Nesta Semana Santa façamos oportunidade para repensarmos nossas relações com o serviço ao outro, escutemos as palavras que Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos discípulos logo após lhes lavar os pés, como dirigidas a nós mesmos, aqui e agora: “Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu sou. Se eu, que sou o Senhor e o Mestre, lavei os vossos pés, deveis também vós lavar-vos os pés uns dos outros. Eu vos dei o exemplo, para fazerdes como eu fiz” (Jo 13 12-15).

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