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Orfandade - Adélia Prado

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"Orfandade" Meu Deus me dá cinco anos Me dá um pé de fedegoso com formiga preta, me dá um Natal e sua véspera, o ressonar das pessoas no quartinho. Me dá a negrinha Fia para eu brincar, me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe. Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável, me dá a mão, me cura de ser grande, ó meu Deus, meu pai, meu pai. ADÉLIA PRADO - in "Poesia reunida"

Tornar-se cristão - Bento XVI

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"Tornar-se cristão não é algo que deriva de uma minha decisão: 'agora faço-me cristão'. Sem dúvida, também a minha decisão é necessária, mas sobretudo é uma ação de Deus comigo: não sou eu que me faço cristão, mas eu sou assumido por Deus,  guiado pela mão por Deus, e assim, dizendo 'sim' a esta ação de Deus, torno-me cristão. Tornar-se cristão, num certo sentido, é 'passivo': eu não me faço cristão, mas é Deus quem me faz um homem seu, é Deus quem me toma pela mão e realiza a minha vida numa nova dimensão" - Papa Bento XVI - "A escolha entre mentira e verdade". L'Osservatore Romano, 16/06/2012, p. 6.

Recompensar

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O verbo recompensar nunca esteve tão na moda. Nossos relacionamentos primam pela idéia da recompensa, haja vista uma sociedade marcadamente competitiva. Não podemos perder tempo com relacionamentos ou atitudes que não nos levem a uma recompensa. Dar sem recompensa é algo impensável. Vemos tudo sob a ótica da recompensa. Diz o Aurélio eletrônico; “A medalha recompensará sua bravura”, “Os lucros atuais não recompensam o risco”, “A família não recompensava a sua dedicação”. A idéia de recompensa na sociedade pós-moderna tem um nítido sentido humano e mundano, ou seja, é no mundo em que vivemos e nessa vida circunstancial que devemos esperar a nossa recompensa. Plantamos aqui e colhemos aqui, ou não. É dando que se recebe, assim traduzimos literalmente o pensamento de São Francisco de Assis. Será que existe uma verdadeira recompensa ou todas as recompensas são relativas? Como podemos articular recompensa e ocultamento? Pode haver relacionamentos sem recompensa? Todas essas pe...

O homem em oração - Bento XVI

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Acabei de ler da editora Quadrante, o livro “O homem em oração – alocuções sobre a prática da oração cristã”, que reúne as catequeses do Papa Bento XVI sobre a oração proferidas nas audiências de quarta-feira entre maio de 2011 e março de 2012. A Quadrante como sempre prestando valioso serviço à sociedade. O livro praticamente é um curso sobre oração pregado pelo próprio Papa, desde as orações nas religiões pagãs, passando pelo Antigo Testamento, até atingir o ápice no Novo Testamento. Destaco da última catequese do livro, “o silêncio de Cristo”, esta bela passagem de Bento XVI: “Percorrendo os Evangelhos, vimos como o Senhor é, para a nossa oração, interlocutor, amigo, testemunha e mestre. Em Jesus revela-se a novidade do nosso diálogo com Deus: a oração filial, que o pai espera de seus filhos. E de Jesus aprendemos como a oração constante nos ajuda a interpretar a nossa vida, a fazer as nossas escolhas, a reconhecer e acolher a nossa vocação, a descobrir os talentos que Deu...

O poeta Afonso Romano Sant’Anna em Paraíba do Sul

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Estive participando agora à noite em Paraíba do Sul do “III Fórum Regional de Cultura”, que envolve os municípios de Três rios, Paraíba do Sul, Areal, Sapucaia e Comendador Levy Gasparian. O fórum é um já tradicional evento realizado pelo SESC Rio de Janeiro, com apoio também da Cia do Livro. A programação é extensa, desde apresentação de escolas de dança, arte, palestras, oficinas desenho, cinema, gravura etc. O tema deste ano é “A arte entre o popular e o erudito”. Hoje à noite no Theatro Municipal Mariano Aranha, o poeta Afonso Romano Sant’Anna (FOTO DO LOCAL) foi convidado a falar sobre “O que é ter um estilo?”. Falou de forma maravilhosa por mais ou menos 50 minutos, seguidos de quase 1h30 de perguntas e debates. Um sucesso de público e interesse. Destaco as seguintes passagens de Afonso Romano; “o ato de escrever é sempre uma resposta para dentro, uma busca de identidade pessoal. No mundo atual muitas vezes estamos escrevendo para fora, para o mercado, o que é rui...

Desejo de Deus - Diálogo entre psicanálise e fé

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"A fé autêntica do ser humano adulto deverá assumir o inconsciente, ou assumir suas dúvidas, admiti-las. Toda fé que reprima a dúvida é uma fé infantil; não consegue chegar a ser adulta. Por isso, a fé amadurecida vai admitir a dialética nosso nosso interior; entre a nossa parte que acredita e a nossa parte que duvida. Todos têm uma boa dosagem de ateísmo; o perigo está em fazê-lo desaparecer no inconsciente, deixando para o consciente apenas as nossas mais firmes convicções" Juan Guillermo Droguett , " Desejo de Deus - Diálogo entre psicanálise e fé ", p. 135/136.

Esperar

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‎"Vivemos numa era em que 'esperar' se transformou num palavrão. Gradualmente erradicamos (tanto quanto possível) a necessidade de esperar por qualquer coisa, e o adjetivo do momento é 'instantâneo'. Não podemos esperar mais gastar meros 12 minutos fervendo um panela de arroz, de modo que foi criada uma versão de dois minutos para microondas. Não podemos ficar esperando que a pessoa certa chegue, de modo que aceleramos o encontro..." Laura Potter, apud Zygmunt Bauman, " A arte da vida " pág. 13.

O cristianismo religião da confiança

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"Talvez o homem de hoje não sinta a beleza, a grandeza e conforto profundos contidos na palavra 'pai' com a qual podemos dirigir-nos a Deus nas oração, porque hoje em dia a figura paterna com frequência, não está suficientemente presente, e também muitas vezes não é suficientemente positiva na vida cotidiana". Papa Bento XVI  

Mysterium fidei - eucaristia

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"Portanto, não basta afirmar que Cristo está no pão ou está no vinho; é necessário afirmar que Cristo é o pão e Cristo é o vinho e naquelas espécies consagradas já não há realmente pão e vinho; nada há que não seja o Cristo Senhor, morto e ressuscitado. Imenso mistério! Mistério de amor! Mysterium fidei – mistério da fé!" - Dom Henrique Soares da Costa

Calar e esconder-se é próprio do escritor - César Aira

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"Desconfio de pessoas que falam demais, políticos, pregadores, e dos que se exibem e dão lições. Acredito que a literatura é o contrário do charlatanismo e do exibicionismo. Calar-se e esconder-se é mais próprio do escritor, mais eficaz para sua prática" César Aira - escritor argentino  — em  Ed Zanatta

O livro e sua discrição - César Aira

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"Eu me desvencilho do livro assim que ele é publicado e prefiro que o editor não faça nada por sua difusão. O melhor dos livros é sua discrição, sua paciência para esperar o leitor, ainda que isso demore muitos anos". César Aira - escritor argentino  — em  Ed Zanatta

Corpus Christi

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"A procissão do Corpo de Deus torna Cristo presente nas ruas e cidades do mundo. Mas essa presença não deve ser coisa de um dia, ruído que se ouve e se esquece. Essa passagem de Jesus lembra-nos que devemos descobri-lo também nas nossas ocupações habituais. A par da procissão solene desta quinta-feira, deve avançar a procissão silenciosa e simples da vida comum de cada cristão" - São Josemaria Escrivá - "É Cristo que passa - homilias"

Eu sou o que consumo

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Esta semana a Globo News da Sky está reprisando uma entrevista de janeiro de 2012, com o sociólogo polonês radicado na Inglaterra, Zygmunt Bauman, que é uma verdadeira aula sobre a sociedade atual, para muitos pós-moderna, para Bauman, uma “modernidade líquida” em contraposição a uma outrora modernidade sólida, onde as coisas eram permanentes. Bauman ensina que hoje “somos aquilo que compramos, ou consumimos”, não importa mais “ser alguém”, não buscamos mais a identidade naquilo que somos como seremos humanos, porque só se é mediante o consumo. Eu sou aquilo que compro (carro, roupas, celulares, viagens). Segundo ele é uma verdadeira “orgia consumista”. Daí Zygmunt Bauman falar na fluidez da vida que é uma modernidade líquida. Nada mais é permanente, nem os bens nem as relações entre as pessoas, o sólido não conserva mais a forma por muito tempo, tudo se esvai. No que tange a internet e as redes sociais Bauman nos fala sobre um verdadeiro “strip-tease espiritual público”....

Mestrado em Direito Tributário - UCAM-RIO

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Há onze anos concluía o Mestrado em Direito Tributário da UCAM-RIO. Em minha banca, da esquerda para direita, Prof. Paulo de Barros Carvalho (Emérito da PUC e USP) ao meu lado, o meu orientador Prof. Adilson Rodrigues Pires (UERJ e UCAM) e o Prof. Ricardo Lobo Torres (UERJ e UCAM). Minha dissertação intitulada "Fundamentos do Dever tributário" recebeu nota máxima da banca, e foi publicada em 2002 pela Del Rey de Belo Horizonte, com o mesmo nome. Prof. Adílson sabia da minha ligação com o pensamento carvalheano e não mediu esforços para que Paulo de Barros Carvalho viesse ao Rio para me avaliar. Foi uma tarde linda e inesquecível, coroada ao final com a companhia do Prof.  Paulo até o aeroporto Santos Dumont, onde fui levá-lo.

Volte sempre, Governador!

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Naquela cidade tudo funcionava direitinho, nem muuuito direito, nem muuuito errado, digamos assim direitinho. A manutenção no serviço público como de regra geral era fraca, deixava a desejar. Obra pública era o forte daquela cidade, aquilo não era uma cidade, era um canteiro de obras funcionando dia e noite. No entanto, o que mais o povo daquela cidade apreciava era a chegada do governador. Nos dias próximos à chegada do alcaide, tudo melhorava, as ruas eram bem cuidadas, os bancos pintados, até as árvores eram retocadas com cores para chegada do governador. O mutirão da limpeza tomava conta daquela cidade, tudo a espera do governador. O povo em festa esperava a cada mês − o governador ia muito lá – a divulgação da próxima vinda do governador. O governador sempre prestigiava as inaugurações daquela cidade. Ultimamente, o governador não estava participando muito de solenidades públicas na capital daquele Estado, haja vista, reiteradas publicações criticando a presença do g...

Direito e sentimento - Ministro Ayres Britto

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Quem acompanha os julgamentos no Supremo Tribunal Federal – STF sabe muito bem que a postura jurídica do ministro Ayres Britto não é ortodoxa, é até mesmo chamado de o “poeta do STF”. Certa feita, o ex-ministro do STF Nelson Jobim, em acalorado debate com Ayres Britto, chegou a criticá-lo dizendo que o STF não é “casa de poetas”, mas sim de “juristas” que interpretam e aplicam o Direito. Pergunto eu, como interpretar e aplicar o Direito em sociedade tão complexa como a nossa? Pois bem, durante seu recente discurso (Cf. “Compromisso de atuar sempre nos marcos da Constituição”.  Revista Justiça & Cidadania , nº 141 maio/2012, p. 18) de posse como presidente atual do STF o ministro Ayres Britto tentou responder a esta pergunta que acima fiz.  Como sempre o seu lado poeta falou alto, o que me toca muito pela proximidade de idéias. Para o ministro aplicar e interpretar o direito no mundo atual é manejar, diante do caso ou das teses em confronto, os dois conhecidos...

Felicidades seu Jair

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Quem entra no CTO (Centro de tratamento oncológico) de Petrópolis pela primeira vez, se assusta. O volume de pacientes é enorme e o nome do centro também é assustador, talvez devesse se chamar CTV (Centro de tratamento da vida). No entanto, o nome é este mesmo, CTO, gostem ou não gostem. O CTO acolhe residentes de Magé, Nova Friburgo, Teresópolis, Areal, Três Rios, Paraíba do Sul e outras mais cidades. É uma máquina de radioterapia para atender aos pacientes de todas as cidades. Funciona de 6 da manhã a 22h30m, todos os dias, exceto, sábado e domingo, aliás, sábado funciona na parte da manhã. Na primeira sessão de radioterapia o paciente chega desconcertado, a espera do que virá, os primeiros sorrisos na recepção são amarelos, o encontro com os colegas também pacientes é discreto e até mesmo distante. Porém, uma coisa é visível no CTO, todos se cumprimentam, na chegada, na saída e durante a estadia o clima que vai se instalando é um só: solidariedade. Todos querem se ajudar e...

O direito segundo Bento XVI

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Li a matéria publicada no “ L’Osservatore Romano ”, jornal do Vaticano, do dia 28/04/2012, pág. 2, intitulada “o direito segundo Bento XVI – a razão é de todos”, da lavra do Cardeal Francesco Coccopalmerio, presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, onde o cardeal discorre sobre o discurso do Papa Bento XVI, pronunciado no Bundestag (parlamento alemão) em 22/09/2011. No discurso o Santo Padre enfrenta de modo exclusivo a relação do direito e sociedade. Traçarei abaixo os pontos da fala do Papa que mais me chamaram a atenção e que nos convida também a uma reflexão. Para o Papa o direito relaciona-se umbilicalmente com a dignidade da pessoa humana, de maneira que o direito é ontologicamente a justiça e o bem, neste sentido o direito não se esgota na lei, reafirmação do Papa que nos faz lembrar o famoso julgamento de Nuremberg, pós segunda guerra mundial, quando os oficiais nazistas alegavam em sua defesa que “cumpriam a lei, cumpriam ordens”, e o tribunal pl...

Comigo não violão

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Geralmente gosto de ler estilos que se opõem a minha forma de colocar-me no mundo. Fico com aquela ponta de inveja... Por exemplo, leio Diogo Mainardi, Gustavo Corção, Nélson Rodrigues, Olavo de Carvalho, Luiz Felipe Pondé e Paulo Francis. São autores que escrevem de uma maneira incisiva. É preto no branco. Assumem posições firmes. Tal perfil é o meu oposto. Adoro-os. Paradoxos da existência. Por exemplo, estou lendo de Paulo Francis “O diário da corte”, uma seleção de crônicas recentemente lançadas pela Editora Três Estrelas, inclusive, com posfácio de Luiz Felipe Pondé. O livro é bárbaro, dá uma sensação gostosa em ver tanta autenticidade em uma única pessoa. Francis, realmente, é encantador. Ame-o ou deixe-o. Eu? Nem tanto. Enfim, adoro os autores que não consigo reproduzir, não obstante também goste muito daqueles que são verdadeiramente parecidos comigo no modo de existir. Neste particular, há um que me chama muito a atenção. É Alceu Amoroso Lima. Há uma passagem do livr...

Caminhos possíveis

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Dois assuntos me movem: a coluna de Contardo Calligaris na Folha de hoje, “Faust moderno” e a desobediência contumaz dos padres austríacos em face da Igreja Católica. Calligaris nos fala da peça “Fogo-Fátuo” que está em cartaz no Sesc em São Paulo, e que contém a seguinte reflexão feita por Mefisto: − “qual função ainda tem o diabo num mundo em que os homens não precisam dele para fazer o pior?”, ou, nas palavras de Calligaris, “Só topo vender a alma em troca de sucesso em minhas empreitadas terrenas se meu breve tempo de vida for, para mim, mais importante do que a eternidade do céu”. Enfim, o mundo moderno ao não mais oferecer uma resposta pronta à pergunta “quem somos?” acaba por nos colocar sempre numa situação de frustração de nossos desejos. Exemplifica Calligaris: estou feliz no casamento? É porque desistiu de procurar o amor de sua vida. Tem um bom emprego e está satisfeito? É porque abriu mão do grande empreendimento de sua vida. Tem paz de espírito? É porque desisti...