Direito e sentimento - Ministro Ayres Britto
Quem acompanha os julgamentos no
Supremo Tribunal Federal – STF sabe muito bem que a postura jurídica do
ministro Ayres Britto não é ortodoxa, é até mesmo chamado de o “poeta do STF”.
Certa feita, o ex-ministro do STF Nelson Jobim, em acalorado debate com Ayres
Britto, chegou a criticá-lo dizendo que o STF não é “casa de poetas”, mas sim
de “juristas” que interpretam e aplicam o Direito. Pergunto eu, como
interpretar e aplicar o Direito em sociedade tão complexa como a nossa?
Pois bem, durante seu recente
discurso (Cf. “Compromisso de atuar sempre nos marcos da Constituição”. Revista Justiça & Cidadania , nº 141
maio/2012, p. 18) de posse como presidente atual do STF o ministro Ayres Britto
tentou responder a esta pergunta que acima fiz. Como sempre o seu lado poeta falou alto, o que
me toca muito pela proximidade de idéias.
Para o ministro aplicar e
interpretar o direito no mundo atual é manejar, diante do caso ou das teses em
confronto, os dois conhecidos hemisférios do cérebro humano. Esse é um papel
atualíssimo, contemporâneo, dos magistrados. Os dois hemisférios são categorizados como tais pela física quântica e
pela neurociência. O lado direito do
cérebro, no qual se aloja o sentimento e o lado
esquerdo, lócus do pensamento.
No lado direito temos então, 0
sentimento, a geração de energia a que chamamos intuição, contemplação,
imaginação, percepção, abertura para o outro e também para sociedade em geral,
disposição para dialogar com a própria existência, e também chamado de lado
feminino e nos conduz ao mundo dos valores: bondade, justiça, ética, verdade e
estética.
No hemisfério esquerdo temos o
pensamento racional, científico, onde estão registrados os conceitos,
silogismos, teorias, doutrina e todo sistema de abstrações que estamos aptos a
fazer como seres dotados da razão, o chamado pensamento cartesiano. Ou, nas
próprias palavras do ministro Ayres Brito: “O cientista é aquele que sabe cada
vez mais sobre cada vez menos. À guisa de parte sem um todo (no sentimento é o
contrário, um todo sem partes). Por isso que chamado o científico de
conhecimento indireto ou discursivo ou especulativo, assim como quem sem
aproxima de um campo minado ou fortaleza inimiga”. Op. cit. p. 18.
Para Ayres Brito o hemisfério
esquerdo é o lado viril do cérebro, não sendo por acaso que a expressão “Direito”
seja representada por uma palavra masculina. Já a palavra “Justiça” é feminina,
e tem a ver com o hemisfério direito do cérebro, lado como já visto, dos
sentimentos. Daí que a palavra substantiva “sentença” venha do verbo “sentir”.
Assim também nos ensina Tobias Barreto citado por Britto, “Direito não é só uma
coisa que se sabe, mas também uma coisa que se sente”.
Enfim, o ministro Ayres Brito em
seu belo discurso uniu sentimento e Direito, hemisfério direito e esquerdo do
cérebro. O jurista é esse ser INTEIRO que pensa como um todo, não só como
cientista que é, mas como ser humano dotado de emoção e sentimento. Na platéia
estava presente a nata do poder brasileiro em todas as suas esferas, a começar
pela presidenta Dilma Roussef.
O final apoteótico do discurso
merece citação integral: “Por último, ponho meus olhos nos olhos de Rita, mulher
com quem durmo e acordo, e que também é a mulher dos meus sonhos. Mulher a quem
digo que tinha mesmo que ser abril o mês desta minha posse. Pois abril foi o
mês em que nos conhecemos. O dia 9 foi a cereja do bolo. Rubra como a pele das
manhãs ainda no talo das madrugadas. Doce como o gosto da minha vida. Rita, ao
seu lado desde então. Obrigado a todos”.
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