Recompensar
O verbo recompensar nunca esteve tão na moda. Nossos
relacionamentos primam pela idéia da recompensa, haja vista uma sociedade
marcadamente competitiva. Não podemos perder tempo com relacionamentos ou
atitudes que não nos levem a uma recompensa. Dar sem recompensa é algo
impensável. Vemos tudo sob a ótica da recompensa. Diz o Aurélio eletrônico; “A
medalha recompensará sua bravura”, “Os lucros atuais não recompensam o risco”, “A
família não recompensava a sua dedicação”.
A idéia de recompensa na sociedade pós-moderna tem um nítido
sentido humano e mundano, ou seja, é no mundo em que vivemos e nessa vida
circunstancial que devemos esperar a nossa recompensa. Plantamos aqui e
colhemos aqui, ou não. É dando que se recebe, assim traduzimos literalmente o
pensamento de São Francisco de Assis.
Será que existe uma verdadeira recompensa ou todas as
recompensas são relativas? Como podemos articular recompensa e ocultamento?
Pode haver relacionamentos sem recompensa? Todas essas perguntas nos fazem
refletir sobre o sentido da recompensa em nossa vida, e, sobretudo, se é
possível viver uma vida normal sem desejar a recompensa do outro. E, caso,
contrário, se de fato ela for devida, de quem devemos esperar a recompensa?
Jesus nos traz importantes ensinamentos sobre a recompensa,
que talvez possa nos ser útil para refletirmos sobre o tema. Diz ele em Mateus
6, 1-6, sobre a esmola e oração, sob a ótica da justiça e da recompensa,
“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente
dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a
recompensa do vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmolas, não
toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas
ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo, eles já receberam
a sua recompensa.”
“Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda
não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que, a tua esmola fique oculta.
E o teu pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando orardes,
não sejas como os hipócritas que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas
esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo, eles
já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando tu orares, entra no teu
quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai, que vê o que está oculto. E o teu
Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”.
Fica evidente que para Jesus a recompensa faz parte da vida
humana, portanto, é algo legítimo de se desejar, todavia, a questão está em
quem vai nos dar a recompensa? E qual o melhor caminho para buscá-la? Jesus
responde que a recompensa de Deus pressupõe o “ocultamento” do sincero agir
humano frente aos outros homens, ao contrário da recompensa dos homens que pressupõe
trombetas, fogos, colunas sociais, twitter, facebook, revista ON, caras,
contigo etc. Dito isto, podemos nos indagar: de quem esperamos a recompensa? Qual
o caminho estamos trilhando em busca da recompensa?
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