O traficante

Naquela favela o tráfico tudo dominou, a própria polícia está contaminada pelo poder financeiro dos transgressores da lei. Os moradores, reféns da situação, pouco podem fazer senão acolher as ordens dos chefes do tráfico. O sonho da população é a chegada de uma UPP (Unidade de Policia Pacificadora), porém, o Governo nem toca no assunto.

Zé do Bode é o chefe do tráfico, e Mequetrefe o tesoureiro e executor dos malfeitores na ótica de Zé do Bode. Nos bailes funk, Zé do Bode escolhia as melhores meninas e seus comparsas eram encarregados de trazê-las para sem comidas. Não havia escolhas para as adolescentes bonitas da favela, ou se mudavam, ou viravam comida de Zé do Bode caso descobertas por seu olhar criminoso e sádico.

Final de semana era dia de acerto com o Zé do Bode. Os aviões (vendedores de drogas) tinham que dar conta financeira do quantitativo de drogas recebida durante a semana. A cena era pesada. Num quarto de uma casa da favela os capangas levavam para Mequetrefe (tesoureiro e executor) aqueles que deram cano no chefe durante a semana. A cena se repetia.

Toc toc na porta. Mequetrefe! Posso entrar, é o Bola. Pode sim. Mequetrefe digitando no computador e contando dinheiro, sequer olha para trás. Este aqui – segurando o elemento pelo braço – o chefe pediu para você comer o cu dele. Mequetrefe, olhando só para o computador, fala, joga ele lá naquele canto. Tem mais, pergunta Mequetrefe. Tem. Então, não precisa bater na porta, estou ocupado. É só me falar o que o chefe quer que eu faça com ele. Tá bom. Entra mais um. Este, o chefe pediu para você cortar as duas pernas dele. Joga lá no canto.  Entra mais um. Este o chefe pediu para cortar as mãos dele. Joga lá no canto. Mais um. Este o chefe pediu para cortar o pinto junto com o saco. Mais um. Este o chefe pediu para você cortar as orelhas... e assim sucessivamente, o quarto foi ficando cheio de “detidos” por Zé do Bode e sua quadrilha.

Passando algum tempo, Mequetrefe continua no computador, só que agora visitando sites de putaria na internet. Muito embora o quarto esteja lotado de “detidos”, o silêncio é sepulcral, afinal, o pavor diante do futuro é patente. Um dos “detidos” pede licença e vai passando no meio dos outros, e suavemente chega perto de Mequetrefe, e com muita delicadeza dá um toque em seu ombro. Mequetrefe, se vira enfurecido e diz: que quer seu merda? Desculpe doutor, é só pra lembrar ao senhor que eu sou o do cuzinho, tá.

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