Dona Zélia

A viúva rega as flores do jardim, a neta passa perto da vó, lasca-lhe um beijinho no rosto e diz a ela que vai ao Shopping Olga Sola com a amiga. Dona Zélia é viúva do funcionário do Banco do Brasil, Sr. Alfredo, e também é aposentada do Banco Central, onde terminou a carreira lotada em Brasília, no cargo de gerente financeira.

O casal só teve uma filha, que morreu em acidente de avião no Peru, deixando uma neta que preferiu morar com a vó ao pai, que mora no sul do país e constituiu nova família. Dona Zélia sempre fez todas as vontades da netinha, que criou como filha fosse. Luana tornou-se uma adulta acostumada com tudo de bom e do melhor, desde as viagens ao exterior às roupas de marcas.

Ambas, vó e filha eram muito religiosas e amigas, inclusive, chegaram a participar juntas da caravana para ver a chegada do Papa Francisco ao Brasil. Só uma coisa incomodava dona Zélia, o gasto excessivo de Luana, principalmente quando se unia as amigas de alto poder aquisitivo. Luana viajava muito e sempre a expensas dos folgados recursos de dona Zélia, muito embora não trabalhasse, cursava filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora.

Dona Zélia veio a falecer repentinamente. Luana entrou em pânico com medo da perda da receita da vó, e resolveu solucionar a questão omitindo a morte vó. Para tanto, buscou na internet ideias para manter o corpo da vó em casa, congelado, e descobriu vários sites sobre o assunto. Assim o fez, e tranquilizou-se por não precisar ficar sem a pensão da vó, já que tinha em poder todas suas senhas bancárias.


Para as amigas dizia que estava tudo bem com a avó. Foi viajar para Miami com uma amiga e ficaram quinze dias fora. Neste interregno, faltou luz no bairro onde morava, o cheiro de carne estragada se espalhou pela vizinhança que chamou o corpo de bombeiros. Quando Luana chegou de viagem, já no aeroporto foi detida para averiguações como principal suspeita da morte e ocultamento do corpo de dona Zélia.

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