A sociedade do medo


Estamos em plena vigência da pandemia do medo na sociedade. Vivemos com medo de tudo. Evoluímos tecnologicamente e curiosamente aumentou o nosso medo. Temos medo da violência, medo de ter filhos, medo da perda do emprego, medo dos hackers, medo das bactérias, dos vírus desconhecidos, da carne aviária, do aquecimento global, do efeito estufa, da camada de ozônio, do tabaco, da velocidade dos carros, da AIDS, do colesterol alto, da pressão alta, do excesso de açúcar, da obesidade, enfim, até mesmo medo do outro.

O medo é difundido na internet, nas revistas e nos jornais. Hoje mesmo (16/10) o GLOBO publica uma reportagem dizendo quepanela mal conservada” pode contaminar os alimentos e levar a doenças como o Mal de Alzheimer. Evidente que não tenho a solução para tanto medo, afinal também estou com medo.

João Paulo II no início de seu pontificado em 1978, disse: “não tenham medo!” da janela de seus aposentos na Praça São Pedro, no Vaticano. Porém, as religiões como um todo também incutem e se alimentam do medo, qual seja o medo do pecado que impede a salvação, muito embora afirmem o contrário: ter é justamente não ter medo. Ou seja, independente da posição que se escolha neste século XXI, a verdade é que o medo tornou-se epidêmico.

O problema está no fato de que o medo nos paralisa e nos torna egoístas. O medo nos impede de agir, de pensar de forma inteligente e livre, ceifando nossa criatividade. Não é à toa que os filósofos gregos costumavam dizer que o sábio é aquele que consegue vencer o medo. Está difícil ser sábio nos dias atuais...

Em outras palavras, Steve Jobs ─ fundador da Apple ─ recentemente falecido, também tocou nesta questão durante toda a sua vida, porquanto foi um daqueles poucos que usou o medo a seu favor, criando sempre o novo. Toda criação é um confronto entre a ousadia e o medo.

Para o filósofo francês Luc Ferry existe basicamente três medos: “o primeiro é a timidez. Ele aparece, por exemplo, quando somos apresentados a alguém muito importante, ou quando precisamos falar em público. É a pressão da sociedade. O segundo medo são as fobias. Medo do escuro, de insetos, de ficar preso num elevador. O terceiro é o medo da morte. Tememos mais a morte de pessoas que amamos do que a nossa própria morte. Não me refiro apenas à morte biológica, mas a tudo o que é irreversível. O corvo do poema homônimo de Edgar Alan Poe exemplifica isso perfeitamente. Repete a todo o momento, como um papagaio, a expressãonunca mais”. Essa é a morte dentro da vida. Para uma criança, pode ser o divórcio dos pais, que nunca mais os verá juntos. O nunca mais, a irreversibilidade da vida, nos dá a experiência da morte.”

A filosofia sempre se colocou ao longo da história e ainda se põe assim, como uma ferramenta importante na dissuasão do medo e na busca da serenidade.

Luc Ferry pontifica quetanto a grande religião quanto a grande filosofia pretendem fazer com que as pessoas deixem de ter medo. Essencialmente, o que a religião diz é que, se alguém tem , se acredita em Deus, não precisa ter medo. Não precisa, por exemplo, temer a morte. As religiões são a doutrina da salvação pela . Todas as filosofias querem a mesma coisa, salvar os homens do medo que os impede de viver bem. que as grandes filosofias são as doutrinas da salvação sem Deus e sem a .”

A palavra está com você caro leitor... afinal falei dos meus medos.

Comentários

Maiara Correia disse…
Muito bom, professor!! Me impressiona a facilidade com que vc escreve bem sobre os mais diversos temas! A questão do medo é realmente visível. E as vezes, me parece, há a intenção de alguns setores da sociedade (como o mercado e a política) em disseminar o medo. Afinal, o medo é uma espécie de instinto de sobrevivência. Por isso, é que nós, seres humanos, temos sempre que articualar nossos institos com a razão.
Lauri Castro disse…
Olá Roberto,
Tudo bem?

Gostei muito do seu texto. Me trouxe a compreensão de um contexto muito proeminente na sociedade de hoje e, me despertou o interesse por buscar mais conhecimento a respeito. A Maiara fez uma excelente contribuição, também, o dize que precisamos articular nossos instintos com a razão.

Continue publicando seus textos, acredito que podem ajudar muitas pessoas a delinearem o que é uma explosão de pânico do que apenas alguns instintos mais aflorados.

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