Sêneca no Brasil
Convidado pela FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo, o filósofo Sêneca esteve no Brasil está semana, e num intervalo de uma agenda super requisitada, falou brevemente ao jornal Idéias.
Idéias – O que o trouxe ao Brasil?
Sêneca – Vim falar a um grupo de empresários sobre a importância de uma reflexão filosófica na gestão de negócios. Desenvolvimento e filosofia de vida andam juntos. Num mundo tão massificado por verdadeiros workaholics é necessário refletir sobre onde queremos chegar e como. Essa é a contribuição que um idoso filósofo veio tentar ofertar aos empresários brasileiros.
Idéias – O senhor acha que ainda há espaço para filosofia no mundo atual?
Sêneca – Evidente que sim. O homem desde os pré-socráticos reflete sobre o significado da vida e o seu significado no mundo. A filosofia objetiva entender o mundo e salvar as pessoas do medo da existência. Agimos impulsionados pelo medo: medo de envelhecer, medo de adoecer, medo de não ser aceito pelo outro, medo de perder o emprego etc. O mundo atual marcado pela idéia absoluta do consumo como felicidade e do politicamente correto aos extremos, clama por uma reflexão filosófica mais profunda, e neste sentido os empresários não estão fora do contexto.
Idéias – E tem sentido falar em sentido (perdoe-nos a redundância) das coisas num mundo onde Deus está morto, segundo Nieztzche?
Sêneca – Mais do que nunca. A meu ver Deus não está morto, porém, o que cabe a Deus não cabe ao homem. Deus é o gestor do mundo ainda que não compreendamos bem isso. A Deus o que é de Deus, ao homem o que é do homem. Deus faz o papel dele e nós o nosso.
Idéias – E qual é o nosso papel ou sentido da vida?
Sêneca – Eis uma pergunta que cada um deve responder para si. Para mim, o sentido da vida passa pelo exercício do ato de tentar ser bom nesta nossa episódica existência: bom esposo, bom filósofo, bom professor, bom amigo, e já tá bom demais... risos. O fracasso sempre nos ronda nesta empreitada, mas o sentido está no dever ser bom. Já o sentido último não nos cabe, cabe a Deus, e isto não deveria nos afligir, foi isso que disse aos empresários paulistas esta semana. Sejamos bons.
Idéias – O senhor parece não reconhecer nossa inclinação para a prática de atos maus?
Sêneca – Não desconheço, não. Apenas e tão somente penso que é o bom que dá sentido ao homem. Não posso ter o mal como força motriz se eu sei pela minha própria existência que o mal só gera o mal. Como posso universalizar um preceito de vida que só destrói a vida? Não. O homem tem como reconhecer que o bom é que o move. Neste sentido, a idéia do pecado original é uma grande contribuição do cristianismo à sociedade.
Idéias – O senhor professa religião, é cristão?
Sêneca – Creio em Deus, acho Jesus um modelo perfeito de homem, que só poderia ser Deus, mas penso e vivo como filósofo. Deus lá e eu cá. Daí a césar o que é de césar a Deus o que é de Deus. Criador e criatura. A responsabilidade aqui embaixo é nossa ainda que em última instância tudo deságue Nele.
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