Ser livre nos dias atuais
Quando
se pergunta a qualquer leigo o que ele entende por liberdade, a resposta é
imediata, “fazer o que se quer”. Theodor Adorno (1903-1969) bem representou
esse desejo: “A liberdade não consiste em escolher entre o branco e o preto,
mas em subtrair-me desta escolha pré-definida”. De fato, o homem marcado pelo
pecado original já não se reconhece mais como criatura, mas sim, como dono de
seu destino. O homem “emancipado” de Deus não vislumbra um mal ou um bem “a
priori”, tudo são nossas escolhas. O homem é sem essência, pura criação de si
mesmo, logo, condenado a liberdade ─ diz Sartre.
Ser
livre, então, é poder dizer não nos moldes de que vieram preconizar os hippies dos anos 60, ou seja, “faça do
seu jeito”. No fundo ser livre é querer ser deus, razão pela qual a marca das
relações interpessoais neste caso é a rivalidade, porquanto sendo eu o autor
único de minha vida todos os demais são meus coadjuvantes, por decorrência, o
“inferno é o outro”, novamente cito Sartre. Na verdade todos estão brincando de
deuses no mundo atual.
Boa
parte de nossa sociedade professa esse conceito de liberdade pugnado pelas
diversas correntes de filosofias e éticas materialistas (Sartre, Marx, Freud, Nietzsche
etc.), que no fundo é uma condenação ao egoísmo, à dolorosa solidão. É evidente
que este modelo de vida só produz caos nas relações sociais, porquanto é
semente de discórdia, rancor, egoísmo, competição, brutalidade, insensibilidade
e desumanidade. Essa visão de liberdade unilateral, eu comigo mesmo com a
exclusão do outro, não tem conduzido nossas vidas a porto seguro, pelo
contrário, estamos em profunda crise nas relações interpessoais.
A
idéia materialista é de que somos livres até mesmo de qualquer obediência. Tal
fato não passou despercebido a crítica pontual de Antonio Marchionni, em seu
livro “Ética – arte do bom”, Petrópolis: Vozes, 2008, p. 107/108, ao
dizer, “a autonomia moral das filosofias materialistas não parece tão autônoma
assim: o homem decide autonomamente, mas com base em quê? Em nada? Esta
autonomia, que pretende excluir qualquer paradigma ou mapa prévio à
subjetividade livre do indivíduo, na verdade não existe. De fato, as éticas
materialistas obedecem às exigências da natureza humana e da convivência entre
naturezas humanas. A liberdade total é uma quimera, pois só existe uma
liberdade situada dentro de exigências maiores, visíveis ou invisíveis que
sejam. O homem religioso obedece as exigências do Criador, o homem materialista
obedece as exigências das leis biológicas, sociais e físicas. Todos obedecemos”.
Enfim,
é paradoxo do “humanismo ateu”, “livres” e desamparados de valores eternos,
somos feras jogadas aos leões no Coliseu da vida pós-moderna. Ser devorado?
Puro andamento da fila...
Penso
que liberdade deve ser visto como alteridade, ou seja, sou livre na exata
medida em que entro em comunhão com o outro, viver é conviver. “Novidade” minha,
não, de Cristo. O repúdio do homem contemporâneo em ser “reduzido a mero
artefato divino” (expressão existencialista) nos leva a uma vida que não
funciona, ou seja, tudo é permitido, porém nada faz sentido.
Precisamos
novamente lembrar da derrota de Adão e Eva que também tentaram ser deuses ─ felizmente
a vitória veio por Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz ─ e deixarmos também de
brincar de deuses de nossas escolhas. Ao contrário do que diz a onda atual, não
somos os senhores de nossa existência, somos livres somente e na medida em que
nos libertamos daquilo que mais nos escraviza ─ o pecado da soberba atual ─
vivamos no aqui e agora a presença antecipada do céu, que é comunhão (nós e os
outros) e Trindade Divina, Deus é amor e nós suas criaturas amadas!
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