A vida de Stanislaw


Dois amigos acabavam de sair de uma sala de cinema UCI Kinoplex Independência em Juiz de Fora, tiraram o final da tarde e o início da noite para assistirem “A vida de Stanislaw”. O filme trata da história de vida e sobrevivência de Stanislaw durante a perseguição nazista na Segunda Grande Guerra Mundial. Stanislaw teve toda sua família dizimada pelos alemães, avô e avó, pai, mãe, irmão, irmãs e a maioria de seus amigos de infância. Stanislaw viu com os próprios olhos os enforcamentos de alguns e a ida para câmara de gás de outros, porém, sobreviveu a tudo.

O famoso cineasta foi impiedoso ao retratar a tragédia na vida de Stanislaw, porém, estrategicamente o filme termina sem esclarecer os sentimentos de Stanislaw frente a tudo que aconteceu em sua vida. Citada tarefa ficou para quem assistiu ao filme. Foi a partir desta encruzilhada bem urdida pelo cineasta que Pablo e Leandro saíram do cinema a conversar sobre a mensagem do filme. Resolveram então tomar uma cervejinha para juntos relaxarem, e poderem então absorver o que tinham acabado de ver na grande tela.

Pablo cético, falava do acaso da vida. Leandro crente comentava sobre os desígnios de Deus.

Pablo indaga: ─ Como você pode falar em Deus, Leandro, depois de ver toda a família de Stanislaw dizimada pelo império do mal, onde estava Deus?

Leandro responde: ─ você tem razão, Pablo, porém, a não é uma questão limitada à razão, a é mais, a é uma adesão, neste sentido a sobrevivência de Stanislaw e a morte de seus parentes é um mistério para o qual não temos explicação, no entanto, creio que mesmo assim Deus está , ainda que em forma de cruz. É preciso ler o Livro de Jó no Antigo Testamento e a Carta Apostólica “Salvifici Doloris” do Santo Padre João Paulo II.

− Me poupe – diz Pablo.

Eh continua Pablo, ─ realmente, a exige algo que eu não tenho condição de ofertar, ou seja, uma adesão cega e irracional, penso que Stanislaw sobreviveu por puro acaso, acaso, entendeu Leandro!

Claro que entendi seu ponto de vista, Pablo, porém, me recuso a aceitar o acaso como guia de nossa existência, Deus é criador e onipotente, ainda que esta onipotência às vezes se esconda na cruz de nossa existência. A exige um salto, e de fato, nem todos conseguem saltar em direção ao mistério.

− Pablo espera um pouco, vou ler para você o Evangelho de Lucas 7, 11-17, diz Leandro:

─ “Naquele tempo, Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: “Não chores!”. Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!”. O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. Todos ficaram com muito medo e glorificaram a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo”. E a notícia do fato espalhou-se pela Judéia inteira e por toda a redondeza”.

O que achou do texto, Pablo, indagou Leandro.

Sinceramente, Leandro, o fato de Jesus levantar e dar vida a um morto é estupendo, porém, o que me comove é que tantas outras viúvas também tiveram seus filhos falecidos, por exemplo, a viúva Léa, Rosalva, Madalena, Clotilde etc e nada foi feito para que seus filhos voltassem à vida, ou seja, continuo não entendendo porque uns e não outros são beneficiados pelas mãos de Deus.

Mais uma vez estamos num dilema meu amigo, diz Leandro.

─ É que a nos faz acreditar que todos que creem serão ressuscitados por Jesus Cristo ao seu tempo, todavia, de fato, a não explica porque aquela viúva e não outras foram beneficiadas pela misericórdia de Deus. A misericórdia é pura graça e não merecimento.

Continua Leandro,

─ O caminho do entendimento puro não nos leva a crer, daí porque Santo Agostinho verberava, “crer para compreender” e não ao contrário, compreender para crer. Eu sei que é difícil para você, Pablo, mas é assim o mistério da , todos a recebem no batismo como virtude teologal, porém, por algum motivo ela não deita raízes em todos.

Então o meu batismo foi uma nulidade Leandro ─ retrucou Pablo.  Aliás, disse Pablo,

– Concordo com o filósofo Schopenhauer quando ele dizia que esse nosso mundo é pior do que o inferno. No inferno, você sabe por que sofre. Há um elo entre o que se fez e o que se paga. Mas, neste mundo, não há como saber os motivos do sofrimento recebido. O filme não disse isto, mas penso que Stanislaw também concordaria com Schopenhauer.

Leandro abriu um largo sorriso e disse:

− Você é impagável, prefiro pensar que Stanislaw acreditava na misericórdia divina. Pediram a conta e foram desta feita conversar sobre os seus times no Cartola FC.

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