Dor e alegria



O desejo vinha, mas eu o ceifava. Quando o real se impõe, a escrita se cala. O traumático e violento AVC sofrido por minha mãe me levou às cordas. Uma vida bem cuidada e vivida com muita felicidade foi colhida de forma brutal por uma doença cruel. Nestes dois meses temos vivido assim, em torno de migalhas evolutivas, que graças a Deus vem de ocorrer.

No entanto, a vida lá fora segue, e as alegrias também. Meu fluminense foi campeão e tenho vivido grandes emoções desde domingo passado. Várias vezes pensei em me colocar diante deste computador, mas, em todas elas recusei porque o desejo de escrever era menor do que a emoção, ou noutro dizer, a dor era maior que a alegria. Hoje, quando vi Abel e Ivan Lins no Esporte Espetacular, a emoção suplantou o desejo ou a alegria superou a dor, por isso ‘eis me aqui Senhor’.

Incrível a afinidade que tenho com o Abel, sem conhecê-lo pessoalmente, adoro suas entrevistas e sua forma transparente de conduzir o flu. Ele é alguém no futebol, acima da média, seja na inteligência tática ou na forma mesmo de se expressar. Agora pouco, vê-lo ao piano tocando uma música de Ivan Lins, ‘Lembra de mim’, para sua esposa, foi de lascar o coração. Vejam vocês: foi de sua mulher que Abel lembrou quando os olhos lacrimejavam ao lado de Ivan Lins. É, realmente, o amor dele (Abel) por sua esposa também me fez lembrar a minha que mais do que nunca tem vividos estes momentos difíceis de doença aqui em casa, desta feita cuidando de minha mãe como se fosse filha, ou até mais do que isso.

Assim como Abel e Ivan Lins se abraçaram emocionados após o ‘dueto’ no piano, também eu emocionado dedico este momento da minha escrita a minha esposa, Nasta, com quem divido o tetracampeonato e ao mesmo tempo, o difícil e lento tratamento de recuperação de minha mãe. O Abel é o maestro do tetra e Nasta, a gerente do barco da minha vida. Deus abençoe a ambos!

Tenho acompanhado durante toda a semana as comemorações tricolores, e de fato, tem sido de arrepiar. Ver o Jô Soares entrar ‘ao vivo’ no Bate-bola da ESPN e vê-lo trocar um papo lindo com o Abel também foi de arrebatar o coração. Mais uma vez estava lá o Abel a me tocar o coração com palavras sempre sábias e acima de tudo, humildes. O Abel prima pela humildade, em todos os programas televisivos em que homenageado ao fim e a cabo era ele que saía homenageando os outros, como muito bem fez com Jô Soares e agora com Ivan Lins. Ele é assim: um tricolor de verdade, fidalguia a toda prova!

Pus uma enorme e lindíssima bandeira tricolor na sacada da varanda do quarto de Isadora, até minha mãe já viu, e gostou. Assisti todos os programas esportivos que homenagearam o flu até agora, li quase todos os jornais, enfim, estou curtindo cada momento deste inesquecível tetracampeonato. Hoje será mais uma tarde linda quando a torcida lotará o Engenhão para o jogo contra o Cruzeiro. A vida é assim dor e alegria são indissociáveis. Se vivo o choque e a perda da saúde até então perfeita de minha mãe, do outro comemoro o tetra e vinte anos de casados ou trinta de namoro, com a mulher da minha vida. Aqui outra afinidade com o Abel, assim como ele, eu também tenho uma mulher que é digna de todas as homenagens!

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