Diogo Mainardi no Roda viva
Lembro-me acompanhar o Diogo Mainardi desde que ele
apareceu no “Manhattan Connection” sendo elogiado por Paulo Francis. Estranhei
alguém ser elogiado por Francis. E ainda mais alguém tão jovem, na ocasião.
Desde então Diogo só fez revelar a sua singularidade. Num mundo tão
pasteurizado, de poucas idéias e raríssima autenticidade, ver o Diogo falar e
escrever é fabuloso, se bem que ele mesmo reconhece que escreve melhor do que
fala.
Pois bem. Ontem à noite eu estava zapeando com o controle
remoto do meu quarto quando me deparei com a presença do Diogo no programa Roda
Viva da TV Cultura. Pensei comigo, show garantido, muito embora sono perdido,
já que há horas e horas para excitação mental, e certamente, na hora de dormir
não é recomendável ouvir Diogo Mainardi.
O programa girou em torno de seu novo livro, “A queda”, que
retrata o triste episódio do ocorrido no nascimento de seu filho Tito, que tem
paralisia cerebral como resultado de erro médico acontecido durante o parto num
hospital em Veneza na Itália. Como o próprio Diogo disse durante o programa, o
livro não é autobiográfico, é sim um apanhado de lembranças que o liga de forma
absoluta a seu filho. Perpassando a história sua, e da própria humanidade,
Diogo fala do amor incondicional de um pai a seu filho, independentemente de
qualquer condição clínica ou até mesmo existencial dele.
Não li o livro ainda, tentei comprar na livraria Saraiva do
shopping Independência, domingo, mas ainda não havia chegado. Sebastião Médici
foi mais rápido do que eu e comprou-o na livraria Nobel em Itaipava, e segundo
me disse no facebook, está encantado. Diogo Mainardi é algo de sensacional,
máxime pela forma como se coloca inteiro na vida. Era o colunista mais lido da
VEJA com sobras, seu passe valia e vale ouro, mesmo assim espontaneamente
abandonou a coluna na revista e foi morar em Veneza para junto da esposa,
cuidar de Tito.
Diz ele, que com a indenização ganha na ação movida por Tito
contra o hospital italiano, ficou rico e não precisa trabalhar, e desta
maneira, não quer mais trabalhar na vida. Os entrevistados boquiabertos
perguntavam como é não trabalhar no mundo atual, com o que respondeu Diogo: − simples, levanto e não
faço nada o dia inteiro. Levo meu filho o colégio, e após leio jornais,
revistas, filmes e no mais fico à toa. Joyce Pascovith indagou se ele fazia
exercício, caminhava ou coisa do gênero, Diogo respondeu na lata: − tá doida, fazer
exercício coisa nenhuma, faço é nada mesmo. Assim é Diogo. Sobre a internet ele
disse: − um bando
de idiotas.
Além das colunas da VEJA li de Diogo, “A tapas e pontapés”
que nada mais é que uma coletânea também de suas colunas, não li seus romances,
mas vou ler “A queda”, por certo. Diogo é da escola de Ivan Lessa, outra língua
afiada que morreu há pouco tempo, e também nos lembra muito o humor ácido de
Millôr. Quem assistiu o Roda Viva ontem por uma hora e meia ganhou à noite, ou
pelo menos, aprendeu um pouco melhor o que é ser PESSOA de verdade na vida, ou
seja, um misto de sinceridade, responsabilidade, dores, alegrias, mas,
principalmente LIBERDADE.
Em tempo: os petralhas do PT conseguiram levar um oficial de
justiça ao programa para intimar Diogo antes mesmo dele entrar ao vivo. É assim
o poder: não perdoa quem o ironiza.
Comentários
Abraço.
Vera Sabino.